panturrilha de bailarina

de noite deixo a louça lavada já. aí quando acordo é só ralar o café e brasil. dois dedo de leite na cerâmica. duas perna de grilo no vidro. tem saído mais prosa ultimamente. prosa pra mim é quando a linha chega no fim da página. poema chega do nada parece. tu vê um rato atropelado. tu vê a nuvem no reflexo do prédio. às vezes tenho certeza que é poema e é só cansaço. às vezes pressa. já ganhei comprei vários caderninho mas esse é o primeiro que levo a sério. só sai da mala se o dia tá sem poesia. ou quando eu tô sem poesia. foi-se o tempo em que eu tinha tempo pra espremer uma página em branco. de terça a sexta pedalo pro trampo umas onze e sábado domingo e feriado umas nove. o ruim de trampar de tarde é ver o dia passando lá fora. volto a noite. escrevo papo de uma hora toda manhã. de manhã minha cabeça funciona melhor. esquece um pouco das bad. tipo beber uma antes do almoço. aquela fita de botar no papel bebaço e corrigir de cara limpa funcionou um tempo. o que sempre funciona é acordar mais cedo. tipo agora. o dia tá nascendo nublado mas tem um furo cor de ouro no bolso da madrugada. me sinto agradecido. três quatro madrugadas por semana eu chegava do trampo e ia na churrasqueira do conjunto escrever. saía uns bagulho sem pé nem cabeça mas eu conseguia sei lá como terminar. isso em 2015. em 2016 fui morar sozinho e com a grana do acerto do bar paguei um ano de aluguel. publiquei meu primeiro conto naquele bar e conto pra mim é o que dá vontade de contar. colei no corredor que levava pro banheiro. o banheiro masculino não tinha porta. a galera cheirava demais. o conto era sobre a última pessoa de um grupo de amigos. sobre ela ser meio corcunda porque quem sobrevive é quem carrega as memórias. aí em 2017 fiz um curso de escrita criativa e em 2018 escrevi outra parada. dessa vez tentei inventar uma história. como se toda história não fosse inventada. enfim. o conto rolava na vila torres. quando um mano meu ficou sabendo pediu uma cópia. entregou pra faxineira da aliança francesa e passou um tempo. fui dar um salve no trampo dele um dia. ele me apresentou pra senhora que limpava lá. perguntei se tinha curtido a leitura e ela disse ser uma das primeiras moradoras da vila torres e que lembrava da história mas o final era diferente do que eu tinha escrito. não era a polícia que matava o rapaz. era os trafica. qual fita. o que que eu sei da vida. durmo o máximo que posso e empurro a bike uns metros antes de montar. é pra aquecer. músculo é tipo roupa. rasga se usa demais. quando não consigo pedalar ir pro trampo correr atrás dos meus sonhos fico sem imagem. sem som. tem o lance da serotonina. da brisa de que um dia velhinho vou ver alguém fazendo alguma parada com paixão e pensar pô, é por aí memo, vai que vai. aquário de ascendente peixes viaja grandão. curte ficar no alto da montanha. não sei se curte. sei que fica. que passa tempo demais no fundo do lago das próprias coisas. ou passa o tempo que deveria. o que que é o tempo? o tempo é aham tá bom senta lá cláudia. senta lá e escreve. pedalar com a pontinha do pé dá câimbra.

Sobre o/a autor/a

Rolar para cima