Todos os livros são bons?

Em conversas sobre leituras, literaturas e livros, às vezes, as palavras desviam-se para o supérfluo, como por exemplo a quantidade de livros que se tem em casa.

Quantidade de livros – bobagem – é só contá-los. E a qualidade dos mesmos como se mede?

Falar da qualidade do livro é como falar da vida. Cada qual conta a sua história, à sua maneira e conta a sua verdade. Seria um livro. Outra pessoa, outra história, outro livro.

Assim é com o livro: cada qual tem um conceito – dentro de seus, no geral, parcos conhecimentos e do que busca como informação – de qual livro é bom, qual é ruim.

Com este olhar devo concluir que todos os livros são bons e dos que não gosto me resta a crítica e/ou o lamento?

Não. Nem todos são bons.

Uma pessoa que não tem conceitos formados, elaboração própria, dificuldades de raciocínio e/ou de interpretação dos textos não consegue fazer comparações para decidir sobre os conteúdos dos livros, se bom ou ruim. Nesse caso seria melhor não ler nenhum?

Faço a pergunta porque neste momento lembrei-me de Rogério Magri. Disse, Magri – se não foi desculpas, mas anos atrás encontrei o registro como sendo dele – que não lia nenhum livro porque logo concordava com o conteúdo e se lia outro com posição contrária ao primeiro, ele também concordava. Então era melhor não ler. Evitava confusões de ideias.

Sérgio Moro já ao contrário de Magri disse numa entrevista que leu – vários livros – biografias. Perguntado quais eram não conseguiu citar nenhuma.

Ambos – Magri e Moro – foram ministros de Estado: o primeiro de Fernando Collor e o segundo de Jair Bolsonaro. Como veem para ser ministro – dependendo do governo – não é preciso ler livros. No governo do Bolsonaro basta ler os manuais militares ou simplesmente obedecer as ordens dadas.

Agora retomando, quanto à quantidade – como disse – é só contá-los.

Quando alguém relata ter muitos livros pode receber – dos menos “aficionados” a pergunta: “você leu todos? ”

Se feita para a mim a resposta é fácil: “não, não li”. E, cá entre nós, tenho a certeza de que não vou lê-los – não pela quantidade – mesmo que viva mil anos. Não vou lê-los porque sempre terei [teremos] outros livros à disposição pedindo leitura antecipada. Não li, não lerei, mas sei a razão pela qual os tenho, sei coisas sobre cada um deles.

Há os livros que comprei e os que ganhei. Há livros que foram ganhos e muitos deles com dedicatórias. Entre estes há ainda dois tipos: os que jamais lerei, como os de autoajuda (nada contra) ou os de ‘políticos’ de direita. Neste último caso, em geral, paga-se alguém para escrever por eles, que têm dinheiro para publicar. Depois é só fazer uma ‘respeitosa’ dedicatória e distribuir.

Já os que ganhei de amigos/as tenho duas razões para ler. A primeira como ganhei de pessoas que sabem do que gosto a leitura será feita com prazer. A segunda é para não correr o risco de ser pego com a pergunta: “já leu o livro que te dei?”.

Para os não aficionados ou afeiçoados aos livros fica difícil entender quando respondo: não li todos, mas eles falam comigo e entendo-os. E, neste diálogo há os que pedem urgência de leitura e há os que compreendem quando a fila é furada. Há também os que nada exigem e os que nada cobram, pois sabem de suas origens [os de políticos de direita]. Estes só estão na prateleira por excesso de tolerância de minha parte.

Inclusive tenho comportamento distinto para cada livro.

Se novo observo a capa, leio – ainda que muitos condenam – a orelha, o índice, quando têm, folheio-o e corro os olhos aleatoriamente por parágrafos, ou páginas inteiras, leio a bibliografia consultada [nos casos por exemplo de livros de história], observo a diagramação, o papel, sinto o cheiro.

Se usado procuro marcas, anotações e, através delas, tento estabelecer um diálogo com o/a antigo/a proprietário/a e com o autor/a. Às vezes obtenho sucesso neste colóquio, principalmente respostas sintéticas: um não ou um sim.

Os usados, quando os buscámos no Estante Virtual têm algumas descrições sobre as condições dos livros que nos dão uma ideia geral sobre as condições do livro: Encadernação comum. Editoração normal. Papel comum. Livro adquirido de particular; poucas marcas do tempo na capa. Livro em bom estado de conservação; Livro sem carimbos, sem grifos, folhas amareladas pelo tempo….

Estas observações não deixam de ser um diálogo com o livro ou um retrato falado do mesmo.

Para Bolsonaro só há um livro bom – A Verdade Sufocada – A História Que a Esquerda Não Quer Que o Brasil Conheça – que é, segundo ele, seu livro de cabeceira. Imagine-se dormir com um livro que defenda a tortura, a violência e a morte na cabeceira. Como alguém conseguiria dormir ouvindo gemidos e com sangue e vida escoando ao seu lado?

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