Rosário de Saudades

Creio que – não é exclusividade minha – a maioria das pessoas que gosta de livros e gosta de ler é frequentadora de bibliotecas, livrarias de livros novos e/ou usados, os sebos. Sou destes que adora sebo, até por que lá, no geral, tem livros e LPs. Não importa onde esteja, se tiver tempo, visito os sebos da cidade.

Numa de minhas tantas idas a Londrina passei, e sempre que posso passo, nos sebos. Na última vez que lá passei, ano passado, numa das lojas do Sebo Capricho, comprei vários livros, entre os quais Da Alemanha aos Trópicos, Identidades Judaicas na Terra Vermelha (1933-2003) e Londrina, Meu Rosário de Saudades. Ambos os livros têm dedicatória.

Londrina, Meu Rosário de Saudades, Nair Paglia Piantini, uma das pioneiras de Londrina, procura em versos transmitir as lembranças do que viveu. São versos simples e narrativos. Narra a derrubada da mata, a vida dos pioneiros, amizades, dificuldades e a construção da cidade.

O rosário de saudades dá um rosário de lágrimas. Lágrimas pela floresta destruída, as perobas virando tábuas e os animais e pássaros perdendo a vida. Mas, isto é outra história. Como é outra história o atual Ministro do Meio Ambiente afirmar que é bom aproveitar a pandemia para abrir a porteira e deixar o gado pastar na Amazônia.

Crédito da foto: acervo prefeitura de Londrina

Na primeira página do livro, toda em branco, dá-se a impressão já programada para receber dedicatórias, a autora faz uma dedicatória e assina:

Ao Dr. W.

com meu carinho

apreço

Nair

Londrina

28-2-2003

O livro é composto de poemas e fotografias. Nos poemas – Londrina, Meu Rosário de Saudades, o mais longo deles – “canta” e conta a realidade do ponto de vista da autora e as fotos dá-me a impressão de ser um álbum de família. É quase um álbum de família.

Registro: fotografar até meados da segunda metade do século passado era oneroso, poucos podiam fazer. São fotos que hoje servem de registro histórico, assim como os poemas, são parte da micro história ou da história familiar do ponto de vista de dona Nair.

Livros, no geral, todos já têm a dedicatória formal. No caso há: “aos meus pais, aos meus filhos e aos meus netos”. Assim mesmo sem o tratamento de gênero, o que demonstra uma época e uma cultura.

No primeiro poema “Eterna Enamorada de Londrina”, a autora faz referência ao rancho de palmito.

A dedicatória ao Dr. W., a referência ao “rancho de palmito” – lido no folhear rápido – e as fotografias (inclusive de um rancho coberto de tabuinhas) me levaram a comprar o livro.

A referência, por ser nascido e criado na região, mexeu com a minha história pessoal. Minha mãe e meu pai que pioneiros foram, chegaram na região para derrubar a mata e plantar café, e sempre diziam que nasci num rancho de palmito coberto com tabuinhas.

Cada visita a sebos encontro Dedicatórias, que me levam a perguntas sem respostas. Algumas perguntas são especificas ao próprio livro e/ou LP, outras são gerais.

No caso, a dona Nair, no inicio do livro, faz um CONVITE:

Não quebre meu encanto, fique comigo, envolva-se na leitura do meu caderno, volte no tempo… e sonhe por mim.

O Dr. W., mesmo tendo ganho uma dedicatória pessoal no livro acabou não aceitando o “convite” da dona Nair. Isto me leva a perguntar: será que não se encantou pelo livro? Não envolveu-se com a leitura? Por qualquer razão não quis voltar no tempo? Não quis sonhar pela dona Nair?

Pode ser outras razões e, estas gerais, que pergunto sempre que encontro um livro ou LP com dedicatória e à venda: será que o Dr. W. teve dificuldades financeiras e precisou vendê-lo? Ou pior, será que, como dizem os espiritas, desencarnou-se e o herdeiro ou a herdeira não gosta de ler, ou precisamente não gosta deste tipo de leitura ou não gosta da autora, ou também teve dificuldades financeiras? Ou será que o Dr. W. ou, se for o caso, herdeiro/a gostou muito do livro e achou por bem compartilhá-lo?

Sobre o/a autor/a

Rolar para cima