Manter o voo nos trilhos

Por cerca de 20 anos viajei de avião quase todas as semanas. Com o passar do tempo o medo foi diminuindo, mas nunca deixou de me acompanhar. Algumas viagens foram verdadeiros pesadelos.

Passados dois anos e cinco meses recluso pela pandemia, eu e o meu medo embarcamos.

Embarcado e sentado, à espera do início da viagem ouço: máscara cobrindo boca e nariz é obrigatório durante todo o percurso da viagem. Mensagem antes nunca ouvida: sinal dos tempos atuais. A mesma voz que pedia para usar a máscara durante toda a viagem emenda: “descarte, após o desembarque, em local apropriado”.

Mesmo sem pretender fazer o descarte da máscara, após o desembarque, procurei o local adequado e não encontrei.

Assim que o avião ganha altura o comandante informa, como em todos os voos, o tempo de viagem, condições do clima, essas coisas que creio obrigatórias. Mas o comandante deste voo inovou e disse que espera “manter o voo nos trilhos”.

O meu medo logo se preocupou com a possibilidade de o “voo sair dos trilhos”. Esta possibilidade, mesmo que remota me acompanhou toda a viagem, e qualquer turbulência mínima me despertava temor de o avião sair dos trilhos. Felizmente até Guarulhos não saiu e caso tivesse saído vocês já estariam sabendo.

Em Guarulhos, já dentro de outro, rumo ao um destino mais distante despisto o medo e peço aos deuses e deusas que o mantenha nos trilhos.

Se os aviões – trens, carros e ônibus – que me conduzem pelo velho continente não saírem dos trilhos volto para esta coluna em junho.

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