Louco por livros

São muitas as razões que me levam – e devem levar muitas outras pessoas – a comprar livro e, que mudam com o passar do tempo e o avanço da idade.

Não sou leitor de berço. Na minha família – de analfabetos e semianalfabetos e de parcos recursos – os livros que existiam eram somente os didáticos, que, passado o ano, assim como os cadernos, eram descartados.

No caso, estes livros didáticos eram das décadas de 1950-1960 e gostaria de tê-los, não para ver o conteúdo, que isto pode ser buscado nos arquivos públicos e/ou em algumas bibliotecas, mas para junto com os cadernos, identificar como era meu rendimento.

A primeira razão que tive para comprar livros veio tarde, foi para a formação profissional, e raramente tinha o dinheiro necessário para comprá-los. Sem o livro frequentava bibliotecas.

Não conheci, apesar de cursar ginásio e científico, literatura e, que me lembre, somente o essencial de história. De ambas o suficiente para no final do ano ser aprovado. Só na faculdade de medicina – e não foi graças a nenhum médico ou de colega de turma – que fui ganhar gosto pela leitura e sentir a necessidade de livros e, também neste caso, recorria às bibliotecas.

Mesmo que seja possível viver sem, o livro tornou-se para mim uma necessidade vital. Não me imagino sem livros. Esta necessidade leva-me a comprar livros que de antemão já sei ser remota a possibilidade de lê-lo.

Comecei a conhecer a literatura, história, política e sociologia graças a alguns comunistas (meus deuses), estudantes ou não, nenhum da faculdade de medicina, que, na clandestinidade, indicavam e emprestavam livros.

Adquirido o gosto pela leitura veio o desgosto de não ter tempo e – já concluí que jamais terei tempo suficiente para ler tudo que desejo – dinheiro para comprar todos os livros que gostaria.

Mesmo que seja possível viver sem, o livro tornou-se para mim uma necessidade vital. Não me imagino sem livros. Esta necessidade leva-me a comprar livros que de antemão já sei ser remota a possibilidade de lê-lo.

Já comprei só pela dedicatória ou pelo autógrafo do autor ou da autora. Também já comprei, mesmo tendo parcos recursos, e sem a “necessidade” de tê-los, pela qualidade e beleza da edição. Claro: nunca desconsiderei e não desconsidero o conteúdo.

Posso dizer que parte dos livros que possuo não os tenho por “necessidade” e, no geral, cada um tem uma história por tê-lo na prateleira. Nem sempre esta história fica ou ficará na memória.

Muitos dos livros são comprados simplesmente por que entrei numa livraria ou sebo, como se fosse um passeio, porque gosto do ambiente e faço isso não importa onde esteja. Em Bagdá, mesmo sem ler ou falar sequer uma palavra árabe, entrei numa livraria e me detive a namorar os livros. E descaradamente namorei-os com ou sem véu.

Adquirido o gosto pela leitura veio o desgosto de não ter tempo e – já concluí que jamais terei tempo suficiente para ler tudo que desejo – dinheiro para comprar todos os livros que gostaria.

Apesar desse vício tenho certeza que não sofro de nenhum desvio de comportamento, não sou psicopata e tampouco um consumidor incorrigível.  Senti falta, como foi no mais duro período da pandemia, dos sebos e livrarias, mas não cheguei a ter crises de abstinência.

Não sou neurótico, só sou louco por livros. Melhor: amor por livros.

Melhor comprar livros que fazer coleção de chaveirinhos.

Todo este enredo para dizer que comprei um livro só por uma frase. No essa história está diferente – dez contos para canções de chico Buarque, deparei-me com a primeira frase da apresentação do livro – Todo brasileiro nasce esperando a banda passar – assinada pelo Ronaldo Bressane.

Livro na mão, no balcão do sebo, no momento de pagar, perguntei-me a mim mesmo: alguém já comprou um livro em razão de uma única frase?

Saio à rua com o livro na sacola e a frase ecoando na cabeça Todo brasileiro nasce esperando a banda passar.

É uma banda de música, geralmente tocando marchas militares, tocando alegres marchinhas ou tocando coisas de amor? É olhar para o horizonte e imaginar que seu futuro está na outra banda?

Caminhei desafinadíssimo cantarolei: Estava à toa na vida / O meu amor me chamou / Pra ver a banda passar / Cantando coisas de amor

A minha gente sofrida / Despediu-se da dor / Pra ver a banda passar / Cantando coisas de amor

Sobre o/a autor/a

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