Fuck you, son of a bitch ou motherfucker

Há dias circulou em vários sites, blogs e em grupos de WhatsApp um pequeno texto de conteúdo semelhante dando conta de que no “parque de vida selvagem Lincolnshire”, em Friskney, Inglaterra, “papagaios foram isolados por falarem palavrões”.

Após a leitura – o texto praticamente igual em todas as fontes – imaginei algumas razões para proferirem os palavrões e que interpreto como protestos. De saída elenco cinco razões: (1) estão fora do – continente – território; (2) distante do ambiente natural, ou seja, da vida selvagem (3) não viajaram por vontade própria, são migrantes forçados: (4) foram aprisionados; e, (5) mesmo presos, ficaram em isolamento – ainda que não pertençam à espécie responsável pela pandemia do Sars-Cov-22 (Covid-19). São razões mais que suficientes para protestar.

As matérias afirmam que são educados e que, durante o período de isolamento, um dos papagaios “ensinou” os demais a falarem palavrões. Se verdade essa afirmativa este professor de palavrões aprendeu com alguém ou até mesmo em algum ambiente familiar.

Em ambiente selvagem não há professor de palavrões. Só se houver na linguagem deles e entre eles, e não os entendemos.

Terminada a quarentena, foram expostos à visitação pública como “objetos” exóticos recentemente adquiridos. Prisioneiros neste novo parque, este “verdadeiramente selvagem”, decidiram protestar por meio dos palavrões.

Segundo as fontes, o erro destes papagaios, se é que cometeram algum, foi falarem palavrões na presença de crianças. No entanto, esses nomes que usam só podem ter como modelos o próprio ambiente familiar – basta ver os filmes.

É provável que alguns os tenham mandado calar a boca, digo o bico. Não sei se foram ameaçados com um tapa na boca ou mesmo de terem os bicos lavados com sabão, como ocorria na minha infância.

Quando criança, se falasse qualquer termo que fosse entendido como palavrão, poderia levar um tapa na boca ou mesmo ser ameaçado de lavá-la com sabão. No mínimo levava uma bronca.

Disse um dos responsáveis pelo parque que “quanto mais xingam, mais as pessoas riem, o que os leva a xingar de novo”.

Segundo os depoimentos, o termo mais usado é (fuck you). Fuck you é palavrão?

Em quase todos os filmes americanos, não rara vez, ouve-se o fuck youson of a bitch ou motherfucker. O papagaio “professor” pode ter aprendido os palavrões nesta situação num ambiente familiar, assistindo filmes, inclusive ao lado de crianças.

Ao escrever sobre estes papagaios e seus linguajares lembrei-me do meu último internamento numa UTI cardiológica. Consciente acompanhava tudo que acontecia ao meu redor. No final do dia, deu entrada na UTI um agitado e mal-educado senhor que xingava – inclusive chegou a agredir fisicamente um dos atendentes – pessoas que o atendiam ou estavam próximas, como era o meu caso, na cama ao lado, separada por um biombo.

Entra a noite e noite adentro ele se comportou – conscientemente – pior que os papagaios: a noite toda eu, e todos que estavam conscientes na UTI, ouvimos fuck youson of a bitch, motherfucker e outros insultos de que meu inglês não permitiu o entendimento.

Este sim merecia ir para um isolamento, não pelas ofensas, que isto, para mim, era o de menos, mas por não deixar nenhum dos pacientes conscientes dormir, além de agredir os que lá trabalharam naquela noite.

Volto aos papagaios. Os informes dão conta de que eles foram doados por cinco proprietários diferentes. Interpreto como mais uma razão de revolta: não há como ser recluso de alguém, sonhar com a liberdade e ao contrário do sonhado ser enviado para um – campo de concentração – zoológico. Como não se revoltar?

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