Auto retrato

Não fui convidado. E não havia como sê-lo. Não sou jornalista e tampouco escritor. Sou um escrevinhador.

Ofereci-me e apresentei a ideia ao Rogério (Plural): escrever uma coluna sobre “Dedicatórias”.

Ou foi ao contrário: apresentei a ideia e depois me ofereci?

Não importa a ordem, é melhor assim que ser penetra. E aqui não há como ser penetra, a menos que seja hacker.

Não sou.

O computador para mim é uma máquina de escrever – ainda bem que no passado, imaginando ter um emprego de escrevente, fiz o curso de datilografia – que, às vezes, uso um ou outro recurso.

Hoje me coloco entre escrevinhador e escrevente.

Abro parênteses: sempre me pergunto por que escrever se tenho tanto para ler? Será que não estou perdendo tempo? Fecho parênteses.

Me ofereci porque entendi que aqui, por ser um espaço Plural, caberia este tipo de proposta. O espaço é Plural e ocupado por pessoas singulares.

Não sou singular e, como o espaço é Plural, achei que caberia alguém como eu. Não sendo singular sou plural daqueles comuns, que sequer conhece a espécie. Daqueles muito comuns e que estão e existem em qualquer lugar, assim como cachorros vira-latas.

O Mario Quintana, na sua poesia, diferencia um cachorro de um cão.

Aqui no Plural vejo que todos/as que colaboram têm nome, e há quem publica até um minicurrículo e alguns a foto, ou seja, não são plurais, são sujeitos singulares e não ficam no escuro. Dá a cara à luz, ou seria a foto, a tapa.

Também tenho identidade, mas ela é tão plural que se mistura com todos e todas e não me dá nenhuma singularidade. Sou plural destes que não dão sequer um retrato. Sai borrado.

Não tenho retrato ou autorretrato pintado, escrevo meu autorretrato ou me apresento porque você precisa saber de onde vem e o que pensa quem esta escrevendo, melhor, quem quer escrever sobre dedicatórias.

Sou filho de mãe de origem espanhola e pai de origem italiana. Do pai vem o sobrenome e metade do sangue. Da mãe, a outra metade, e a teimosia espanhola. Ou será que a teimosia vem dos italianos e espanhóis?

Nasci em Rolândia, norte do Paraná, na metade do século passado e me construí e me construíram com o atual apelido a partir da metade da segunda metade do século passado.

Na faculdade que estudei, na década de 1970, por usar camisetas cor de rosa, ganhei o apelidado – inicialmente – de Rosa e depois Rosinha, e após formar-me em medicina, de Dr. Rosinha.

O apelido “pegou” creio por eu não aceita-lo e até mesmo por ficar bravo. Na época não se chamava de bulling, mas fui vítima dele. E hoje chego a esquecer o próprio nome.

Há crianças, que me chama pelo nome, o do registro, para fazer bulling. Acham que o nome é pior que o apelido.

Notei mesmo que o apelido ficou como nome próprio no momento em que minha mãe começou a me chamar de Rosinha.

É com o apelido que aqui me apresento.

Ah! O nome próprio: esqueci. Esquecido o nome pinto meu auto retrato:

sempre é preto e branco.

Colorido?

só quando há refração da luz.

Sobre o/a autor/a

Rolar para cima