Barbearia literal

Para a entrevista de emprego, Fernando precisava estar apresentável. Conforme solicitaram no RH, ele deveria chegar lá com o cabelo cortado e a barba feita. Como a tal solicitação veio no mesmo dia da entrevista, procurou a barbearia mais próxima.

Depois de um tempão caminhando e já com seu tempo esgotando, encontrou uma barbearia, onde o letreiro dizia “Barbearia Literal – Serviço completo, corto cabelo e pinto”. Resolveu entrar.

– Boa tarde, vocês cortam…

– Sim! Aqui a gente faz tudo.

-Mas eu nem disse o que estou querendo fazer.

– Não precisa.

– Como não?

– Conheço meus clientes, pelo seu jeito, já sei que é serviço completo, ou não?

– Sim, que incrível! É isso mesmo, mas como você…

– Experiência meu amigo, experiência, agora coloca este avental e senta aqui.

– Vai ser rápido?

– Mais ou menos, mas o resultado final vai ser bem satisfatório, quando menos esperar, vou te transformar em outra pessoa. Paulo, traga a prancheta com o contrato para este moço assinar.

– Contrato? Precisa de um contrato?

– Para o serviço completo, sim, vai que você se arrepende. Até porque, cortar é fácil, já fazer crescer, é bem mais difícil né! (hahaha).

– Verdade! (risos) tá aqui, devidamente preenchido e assinado.

– Mas não vai nem ler?

– Fica susse, tiozão, já vim decidido, pode cortar tudo, só faz o mais rápido possível, porque tenho pouquíssimo tempo.

– É pra já chefia! Toma aqui ó, beba isso.

– Não to com sede, obrigado.

– É para o relaxamento, é importante.

– Se você insiste, beleza, até porque estou nervoso mesmo, relaxar é justamente o que preciso.

– É um grande dia, não é mesmo?

– É sim, mas como você sabe que hoje é… tinha esquecido, você sabe tudo de clientes né!

– Exatamente.

– Nossa, que sono, este negócio relaxa mesmo hein, meu corpo está ficando dormente.

– Agora fica tranquilo, pode dormir aí que logo você já vai se sentir outra pessoa!

– Mas estou esquisito, acho que…

 Antes de o Fernando terminar a frase, caiu no sono profundo.

 Um longo tempo depois…

– Paulo, ajuda aqui, ele está acordando. Seja bem-vinda mocinha.

– Nossa, acho que peguei no sono, quanto tempo eu dormi?

– Em torno de umas 3 horas. Agora você vai precisar de bastante repouso.

– Que? Três horas? Como assim? O que você me deu?

– Ué, te dei anestésico querida.

– Com assim anestésico? E por que ta me chamando como se eu fosse mulher?

– Ué, não era serviço completo? Enfim, olha aí debaixo do avental como ficou perfeito.

– Puta merda!!! Cadê o meu pinto??? Cadê o meu pinto??? Puta merda!!!!

– Puta merda digo eu! Você não leu a placa que dizia: “Barbearia Literal – Serviço completo, corto cabelo e pinto”?

– Eu li, mas…

– Mas o qu? Fiz exatamente o que está na placa.

– Isso é crime! E se fosse literal, estaria escrito pênis, e não pinto!

– Interpretação de texto.

– Põe de volta!

– Não tem como, o lixeiro já levou.

– Você jogou meu pênis no lixo?

– E queria que eu pusesse ele na estante?

– Você é louco!Este é um problema do brasileiro, subjetividade em excesso.

– A culpa não é minha, é do ensino básico no Brasil.

– Só pode ser um psicopata! No caso, um psicopinto! O que vou fazer agora?

– Você não sei, mas eu vou ali trocar a placa da entrada, porque pelo jeito, ninguém sabe português direito neste país.

Sobre o/a autor/a

Rolar para cima