Imagine a cena: a rara oportunidade de acompanhar uma conversa (descontraída) de Darcy Ribeiro com Oscar Niemeyer. O primeiro, um mineiro de Montes Claros, antropólogo, escritor e político, conhecido por seu foco em relação aos indígenas e à educação no Brasil. E, para quem, “só há duas opções nesta vida: se resignar ou se indignar”. Mais ainda:
– O Brasil, último país a acabar com a escravidão, tem uma perversidade intrínseca na sua herança, que torna a nossa classe dominante enferma de desigualdade, de descaso.
Ainda dele:
– Mais vale errar se arrebentando do que se poupar para nada.
Já de Niemeyer, Oscar Ribeiro de Almeida Niemeyer Soares Filho, bem mais do que um arquiteto, uma das figuras-chave no desenvolvimento da arquitetura moderna, algumas lições:
– Quando faço palestras para estudantes, digo que a arquitetura não é importante, o importante é a vida.
– A vida nos leva pra onde ela quer. Cada um vem, escreve sua historinha e vai embora. Não vejo segredo em levar a vida.
– O mais importante não é a arquitetura, mas a vida, os amigos e este mundo injusto que devemos modificar.
– A gente tem que sonhar, senão as coisas não acontecem.
– O governo Lula pela primeira vez deixou o povo brasileiro sorrir um pouco.
A reunião dos mestres e um amigo índio mereceu o devido registro no Museu Oscar Niemeyer, o do Olho, em Curitiba. Niemeyer, Darcy e o índio, que acompanhava o professor. Oscar e Darcy conversavam longamente sobre os mais variados assuntos. O índio, só na escuta, quieto, caladão.
Lá pelas tantas, Darcy quis saber o motivo do silêncio. A resposta, quase acompanhada de um bocejo:
– Estou com preguiça…
Darcy era mineiro de Montes Claros; Niemeyer, carioca; o índio, descendente do bravo povo Pankararu, Pernambuco.