Lia – Capítulo 97

— Sim, ela fica ali. E vai continuar, mesmo depois que a gente sair. Nem se preocupe.

— …

— Pode. Pode fazer barulho e tudo. Só não é pode falar com ela.

— …

— Ou até pode, só que ela não vai responder.

—…

— Desde pequena. Ela que me contou. Diz que aprendeu sozinha. Deitada esperando apagar. Depooooois é que ela foi ler mais, e tal. Entender melhor.

—…

— Ela que me descreveu. E nem é complicado.

—…

— Ela diz que é só ficar ali bem paradinha. Tipo conscientemente sem se mexer. E resistir a tudo quanto é reflexo, todo e qualquer impulso de se mexer, de se coçar. E tal. E aprender a lidar com as coceirinhas, as dores, os incômodos, o frio, o sol na cara. Aprender a deixar de se incomodar com essas coisas. Ela fala “fazer as pazes”. Fazer as pazes com o fato de que essas coisas estão ali. E não precisam de você. E que você pode continuar ali. Que nada disso vai te incomodar se você não deixar. Se você simplesmente prestar atenção nisso tudo quase como se não fosse com você. Com curiosidade. Com interesse. Sem querer apagar cada sensação. Viver com elas mesmo.

—…

— Custa. Ela diz que custa um esforço disgramado. E é isso que ela diz que você aprende. Que pra ficar rigorosamente imóvel, e relaxado e tal, você precisa tipo de um tipo de esforço. Constante.

—…

— Ah, isso? Nenhuma. Assim, necessariamente. O truque, diz ela… O truque é depois você fazer a mesmíssima coisa, mas dentro… da tua… cabeça.

—…

— É.

—…

— Não sei.

—…

— Você cuida da tua vida. Faz o que tiver que fazer. Ela vai ficar ali. Como se não estivesse.

—…

— Não. Eu não.

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