Ela estava passando ao lado do Passeio Público. Pela calçada do outro lado da rua. Trânsito leve, de manhã cedo. Dia frio. Céu cinzento. Passarinhos.
Um caminhão subiu a rua rumo ao Centro Cívico. Deve ter feito vento, só podia ser essa a explicação, num dia de tempo tão parado. Deve ter sacudido a folhagem das plantas todas do outro lado, dentro e fora da cerca do Passeio.
Mas não foi exatamente na mesma hora.
Levou uns segundos.
Ela não sabe se foi sua visão periférica que deu o alarme. Ou se ouviu um baque. Sabe no entanto que perdeu os primeiros milésimos de segundo da queda, mas acompanhou o restante da trajetória até o chão com a naturalidade de quem virou a cabeça sabendo o que espera. Embora ninguém pudesse esperar.
(Não havia mais ninguém na rua.
Ninguém à vista dentro ou fora da cerca do Passeio. Ninguém por perto)
Quando a bolinha de tênis saiu do meio dos galhos de um ipê, derramou-se em linha reta até a calçada, quicou três vezes e depois rolou, lentamente, até a sarjeta. Único ponto amarelo na cena inteira.
Rolando agora.
Como se quisesse vir até Lia.