O presidente está atrasado

As duas viaturas, posicionadas nas proximidades da rotatória da Prefeitura de Curitiba, já anunciavam que o Palácio Iguaçu não teria uma típica sexta-feira. Na Nossa Senhora da Salete, um cordão de isolamento, composto por grades e homens dispostos por toda a linha metálica, mantinha qualquer pessoa não autorizada longe do memorial Bento Munhoz da Rocha Neto. São pouco mais de 15h30, a previsão é de que o presidente da República chegue dentro de trinta minutos.

Apoiado sobre a grade, um rapaz – portando um mochila do curso de Direito da Universidade Federal – conversa com outro, posicionado atrás da linha de isolamento – um suposto segurança. Este traja camisa, calça social, sapatos e um adesivo redondo verde, com uma faixa branca no meio. “Eu vou te trazer os dados”, diz o rapaz com o círculo verde afixado na altura do peito, afirmando que a Federal custa mais do Harvard aos cofres públicos.

Enquanto a dupla debate calmamente o corte de verbas, um grupo de manifestantes ligados à Vigília Lula Livre começa a entoar seus cânticos de “Fora Bolsonaro”. A cantoria tem efeito imediato nos homens que trajam as cores da bandeira brasileira e roupas camufladas com o rosto do presidente estampado. Satirizam os cânticos e fazem troça entre eles. Ainda há poucos policiais, bem como manifestantes, no local. As provocações se resumem a uma espécie de “réplica-tréplica” que ninguém escuta muito bem, exceto quem as responde.

Conforme as horas transcorrem, mais pessoas – e agentes do Estado – chegam ao local. Um rapaz de terno e gravata compra bandeiras de um ambulante, e as distribui entre os apoiadores do governo. “Quando é que eles ensaiam esses gritos?”, questiona gozador um dos rapazes do grupo, em referência ao coro – que já se engrossou – de manifestantes contrários. Um dos policiais se encaminha até o grupo verde-amarelo-camuflado: “Fiquem à vontade, podem ficar aqui, mas lá vai estar mais seguro”, indica, sugerindo que se aproximem dos agentes posicionados nos arredores da Praça Rio Iguaçu. No fluxo final das coisas, os dois grupos acabam separados por uma linha de PMs, uns à direita, outros à esquerda do Palácio.

Na ponta direita do cordão de isolamento, é permitida a entrada de pedestres e carros autorizados. Sentado em um banco, um professor de matemática da rede estadual de ensino tenta entregar uma carta ao presidente. Irineu veio de Cerro Azul, se identifica com as ideias de Bolsonaro e quer pedir ao presidente que avalie uma proposta, ligada à UFPR, de criar uma Universidade Federal do Vale da Ribeira. O professor assistiu a vídeos do presidente, sabe que ele viveu pela região: “Não há ninguém melhor para dar atenção a esse projeto”. Relembro que estamos passando por um corte de verbas para a área. “É, não sei bem se é um corte”, argumenta.

São 18h01 e o céu já escurece quando dois jovens, com bandeiras do Brasil e latas de cerveja nas mãos, podem ser vistos conversando com um professor. “Vou lançar mais um problema”, alerta o homem que conversa amigavelmente. Os meninos têm os olhos estalados, mas ouvidos atentos aos questionamentos levantados. O diálogo só se encerra quando as vaias passam a preencher a noite: uma procissão de sedãs escuros se movimenta no estacionamento do Palácio. Minutos depois, Jair Bolsonaro deixa o local em um helicóptero, ao som de gritos furiosos de “Miliciano”, “Fora Bolsonaro” e outros impropérios…

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