Era uma vez dois pinheirinhos

Era uma vez dois pinheirinhos

E era uma vez duas crianças e a mãe delas.

E era uma vez eu, que era uma das crianças.

Quando eu e meu irmão éramos muito pequenos (não faço ideia da idade, mas vamos dizer que as pernas ainda não aguentavam andar demais) o nosso pai ficou fora por um tempo. Como ele era o motorista da casa, a gente ficou a pé.

– Nossa AB que problemão infinito.

Não é isso. Calma.

A minha família tinha o costume de se reunir na casa da minha vó, todo final de semana.

E era aquela coisa: Primarada. Tia louca. Gritaria. Pão de casa…

Estando a pé, sem grana e com duas crianças que mais tropeçavam do que andavam, minha mãe criou uma estratégia incrível pra nos levar até o caminho da casa da vó todo santo final de semana. E era longe. Longe, longe.

Não sei se ela fez isso com essa convicção de que era uma estratégia incrível. Mas era. É.

Em uma rua quase chegando na casa da minha vó tem uma casa com dois pinheiros. Dois pinheiros beeeem altos. Desses com cara de natal, sabe?

Que dá vontade na gente de encher de bolinhas vermelhas.

(Se vocês não têm essa vontade quando veem um pinheiro, vocês são esquisitos).

Aí a minha mãe fez daqueles pinheiros a coisa mais legal de todo o universo!!!!

– Nossa, mas como ela fez isso AB?

Eu não sei. Acho que era o tom de voz que ela usava que fazia eles parecerem mágicos.

Tipo: Vamos lá ver os pinheirinhooooos!!!!

Sei lá.

Só sei que passar na rua da casa dos pinheirinhos era o melhor momento de toda a semana. Era a melhor coisa do mundo. Era realmente emocionante. Era sensacional! Era mais legal que a Disney. Muito mais.

Sério.

Perguntem pro meu irmão.

Eles eram incríveis.

Porque ela fez eles serem incríveis.

E olha que sacada de mestre.

A casa dos pinheirinhos estava longe o suficiente da nossa pra que o caminho fosse feito de expectativas e se tornasse menos cansativo. Porque, afinal, a recompensa viria em breve, era só continuar caminhando.

Nós tínhamos um objetivo. Uma meta.

O que nos movia entre um tropeço e um pedido de colo era algo enorme e mágico.

Por outro lado, os pinheiros estavam perto o suficiente da casa da minha vó, pra que o resto do caminho fosse embalado pelo sentimento de ter realizado a meta, e pra poder conversar sobre o quanto aquelas árvores eram maravilhosas! E altas! E como elas quase tocavam o céu. E como elas iam ficar ainda mais bonitas se tivesse neve. Ou pirulitos em formato de bengala.

Minha mãe foi genial.

GENIAL!

Hoje a casa dela é bem pertinho da casa da minha vó. E olha só! Na rua da casa dos pinheirinhos!!!

Sempre que eu passo por lá, é inevitável olhar pra eles.

A sensação não é mais a mesma. Mas ainda é boa.

Eles não me parecem mais tão altos e nem acho que eles tocam o céu. Mas eles tocam lugares ainda mais sagrados.

O que eu aprendi com isso? Escolha metas por mais simples que sejam. Compartilhe essa meta com as pessoas que estão a sua volta. Faça com que o caminho seja incrível! Comemore muito quando chegar lá. Mas reserve um tempo pra aproveitar a sensação boa que vem depois da conquista.

Depois é aquela coisa: primarada, tia louca, gritaria e pão de casa.

Hoje eu sei que aquela mágica toda nunca veio do tal pinheirinho.

Vinha dela…

Foi sempre a minha mãe.

Feliz Dia das Mães.

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