A função do filho

Um filho tem dois papéis importantes: o de fazer nascer uma família e o de fazer nascer um ser que se faz mais humano

Nos livros de psicologia sempre se fala sobre a função do pai, termo originariamente desenvolvido pelo psicanalista Lacan, como referência para o desenvolvimento humano em função da lei. Pois o nome do pai se configura como um estatuto para aprendizagens sobre a vida em sociedade.

Viver em sociedade, embora seja uma tarefa fascinante, não é uma tarefa fácil. E, atualmente, a vida em grupo requer que os seres humanos pratiquem condutas inovadoras, que tornem o meio em que vivem um ambiente sustentável.

Já que a proposta é inovar, proponho pensarmos além da função do pai, mas na função dos papéis da família. Então peço licença para ousar, abrindo aqui um espaço para reflexões sobre a função do filho.

Que a mãe e o pai são importantes, todos sabem! Afinal, muito do que somos se deve, parte pela herança genética e, em parte, pela herança social das figuras paterna e materna, não necessariamente biológicas, mas fundamentalmente responsáveis pelo que nos exercem quando cumprem com suas funções! No entanto, vale destacar: é porque nasce um bebê que nasce também um pai, uma mãe e/ou um responsável.

Ninguém nasce sabendo ser pai, tampouco mãe, quiçá responsável por outro. No entanto, tudo isso se aprende e, só se aprende, porque antes se aprende a ser filho!

Imagino quantos de vocês, ao ler o parágrafo acima, não recordou a máxima proferida várias vezes por uma mãe, um pai ou pelo responsável: “No dia que você tiver os seus filhos, você vai entender!”. E é exatamente assim que o curso das aprendizagens se faz. Querendo ou não, é assim que funciona: ao se tornar responsável por uma vida é que validamos aqueles que foram responsáveis por nossas vidas.

Então, um filho, desde a mais tenra idade, tem dois papéis importantes: o de fazer nascer uma família e o de fazer nascer um ser que se faz mais humano. Que humaniza-se porque aprende a receber cuidado e, assim, aprende a cuidar. Suas funções são: 1) fazer nascer um pai, uma mãe ou um responsável e 2) fazer nascer a si mesmo enquanto filho que vai aprender a ser, conviver, agir e interagir com os objetos, tempos, espaços e ambiente.

Em diversos recursos de mídias se fala muito em mudar de atitude para deixar um mundo melhor para os filhos. Todavia, seguindo essa perspectiva é coerente pensar se perguntar sobre que tipo de filho queremos ser nesse mundo?

Por que proponho essa questão? Ora, filho é uma condição universal: todos somos! Mas vale pensar: como somos? Como exercemos a função de filho?

Se, resumidamente, aceitarmos que a função do filho é cooperar consigo e com os outros para nos tornarmos seres melhores, mais fraternos, mais gentis, que age com respeito para com as pessoas e tolerância para com as situações, então podemos alimentar a esperança. Sim! O mundo pode começar a ver a diminuição das tragédias ambientais, o subtrair das desigualdades e a redução de injustiças.

Agora, se o contrário estiver em cena, então urge a mudança! Faz-se necessário uma nova conduta. Para que possamos inovar no modo de ser e, ainda, experimentar o nascimento de novos filhos com outras habilidades humanas e o reconhecimento de novas esperanças que nos possibilitem apreciar mais da vida, é urgente e necessário praticarmos o cuidado. Cuidar do ambiente, cuidar de si, cuidar das pessoas, de seus sonhos, necessidades e histórias.

O ser humano desde o princípio é dotado da capacidade de sonhar. Um bebê antes mesmo de nascer, precisa de cuidados e sonhos e, assim, sustenta os sonhos e as realizações de uma família. Uma família, com dedicação e esforços, sonha e sustenta um indivíduo.

Portanto, sonhar é uma tarefa individual, realizá-la é uma tarefa coletiva. Para realizar uma tarefa é preciso, sobretudo, que cada um cumpra com a sua função e a exerça com cuidado.

Cuidar é uma palavra – ação considerada chave para o desenvolvimento humano, social, empresarial e ambiental. É base também para construir ideias sobre sustentabilidade. Cuidar exige de cada ser humano uma conduta capaz de agir, ser e conviver com as pessoas, os objetos, os tempos e o ambiente, de modo responsável desde o processo até o produto. Do início ao fim!

Em tempos de sustentabilidade, onde se exige dos humanos uma conduta inovadora, convoco o leitor a inovar olhando com cuidado para a função do filho, para que assim todos nós, filhos, possamos seguir adiante realizando a tarefa de preservar e melhorar nossos espaços com vistas a garantir o bem estar nas relações. Administrar e cultivar nossas heranças em prol de um bem comum, a vida! A nossa, a dos outros e a da “mãe Terra”.

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