Quem deixou a Itapemirim nascer?

Suspensão dos voos da companhia aérea ocorreu menos de seis meses após o primeiro voo

A suspensão dos voos da Itapemirim Transportes Aéreos já foi exaustivamente propagada pelos veículos de imprensa e pelas redes sociais, inclusive os prejuízos que os passageiros tiveram e a dificuldade que terão para serem reacomodados em outras companhias aéreas ou para recuperarem o dinheiro gasto. Mas ainda falta um ponto importante nisso tudo: como é que a Itapemirim foi autorizada a operar?

Os sinais foram dados meses antes do primeiro voo, com planos extremamente ambiciosos para uma empresa que estava em processo de recuperação judicial. Liderança no Brasil e destinos na Europa e Estados Unidos em pouco tempo eram algumas das promessas. Sem contar uma frota bastante robusta.

Nesse mundo da aviação não faltam falastrões e aventureiros. A aviação é um setor extremamente complexo e não se abre uma companhia aérea da noite para o dia. Especialmente em meio a uma pandemia. Nem mesmo empresas estrangeiras com muitos recursos e interessadas em operar domesticamente no Brasil tiveram a coragem de fazer isso. Não tinha como dar certo. Ou pelo menos poderia dar menos errado do que deu.

A questão é que não basta apenas colocar a Itapemirim na Justiça e fazer com que ela pague tudo o que deve para os passageiros, funcionários e fornecedores, e que os diretores sejam punidos. É preciso agora investigar quem analisou o pedido de autorização da companhia e em quais circunstâncias.

Tão grave quanto se aventurar nesse mundo é permitir uma aventura dessas.

Os alvos, de cara, devem ser a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e o Ministério da Infraestrutura. É mais do que necessário recuperar todo o processo, onde começou, por quem passou e como passou. E se, claro, pessoas de fora da Anac, tiveram alguma interferência no processo.

E não adianta a Anac dizer que “foi pega de surpresa”. Não é possível. Quem está nesse meio da aviação já tinha avisado muito antes de que a Itapemirim não reunia condições mínimas de se tornar uma companhia aérea. Ou esse pessoal tem bola de cristal ou a Anac não tem técnicos e diretores com capacidade para estar na agência que deveria regulamentar o setor. Ou a pressão foi forte, vai saber.

O ano de 2022 deve servir para encontrar os responsáveis por esse absurdo que foi a aventura meteórica da Itapemirim na aviação comercial. E também deve servir de aviso para que casos assim não sejam repetidos. E olha que há vários tentantes nesse setor que são claramente incapazes de abrir e operar decentemente uma companhia aérea.

Os sinais foram dados e espera-se que a lição tenha sido aprendida. E que isso sirva para alertar técnicos e diretores da Anac sobre novos aventureiros. Eles não faltam. E alguns já prepararam aventuras para 2022.


Em tempo. A coluna Voo Direto vai tirar um recesso e retorna em 8 de fevereiro de 2022. Até lá!

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