O governo do Paraná quer voos da Emirates em Foz. Isso faz sentido?

O governador Ratinho Jr. se encontrou em Dubai com representantes da companhia aérea dos Emirados Árabes Unidos e saiu otimista. O caminho para a rota se tornar realidade, porém, é muito mais longo do que parece

O governador do Paraná, Ratinho Jr., esteve nos Emirados Árabes Unidos para a Expo Dubai e emendou um encontro com representantes da Emirates Airline, a maior companhia aérea do Oriente Médio e uma das maiores do mundo. Na reunião, um pleito: trazer voos da empresa para o estado, especificamente para Foz do Iguaçu.

Esse tipo de demanda é muito comum no mundo da aviação. Prefeitos, governadores, presidentes, empresários, aeroportos, seja lá quem for, normalmente vão às companhias aéreas em busca de novas rotas. Apresentam números, fotos, dados. Uma espécie de dossiê para convencer os diretores das transportadoras.

Pela notícia publicada no site do governo do Paraná, o governador saiu bastante otimista do encontro. “A cidade [Foz] vem recebendo muitos investimentos, públicos e privados, e pode sim ser uma alternativa logística para a Emirates”, disse.

Eduardo Bekin, o diretor-presidente da Invest Paraná, agência de prospecção de investimentos do estado, demonstrou ainda mais otimismo. “Pelas ótimas impressões, temos uma chance muito grande de ter o primeiro voo da Emirates para o Paraná já no ano que vem”, falou.

É quase como se estivesse certo. Mas o próprio representante da Emirates tratou de colocar os pés no chão. “O que posso dizer é uau! A impressão foi muito boa e temos muitas informações que não conhecíamos antes. Mas, para a aviação, teremos de fazer um estudo minucioso após essa visita do governador a Dubai”, comentou o diretor comercial da empresa, Adnan Kazim.

Esses foram os fatos divulgados. Agora é preciso compreender o que tudo isso significa e o que realmente pode acontecer. Ou seja, se Foz do Iguaçu poderá receber voos da Emirates Airline já no ano que vem ou mais para frente.

A declaração do diretor da Emirates direciona a resposta. É questão de dinheiro, apenas isso. Qualquer rota, seja doméstica ou internacional, visa o lucro. Para que uma nova rota saia do papel é necessário um batalhão de estudos para avaliar se ela pode ser rentável ou não. Se for, segue em frente. Se não, é missão abortada.

Em poucas palavras, Foz do Iguaçu só terá voos da Emirates se a companhia aérea identificar potencial financeiro. Caso não identifique, foi só questão de visita de cortesia.

A Emirates voa hoje para todos os continentes. Na América do Sul, somente para São Paulo, o maior hub do continente. Antes da pandemia, voava também para o Rio de Janeiro e Santiago, no Chile, mas até agora não retomou os voos. Essa era a realidade há menos de dois anos.

No Brasil, olhando do ponto de vista econômico, há outros destinos que fariam mais sentido antes de Foz do Iguaçu. Cidades de onde já partem voos internacionais para os Estados Unidos e Europa, como Brasília, Belo Horizonte, Recife e Salvador, para citar apenas esses. O ministro do Turismo, Gilson Machado Neto, aliás, já adiantou que a capital pernambucana poderá ter uma rota até Dubai em breve. Ele ouviu isso do presidente da Emirates, o sheik Ahmed bin Seed Al Maktoum. Mas, claro, também não é certeza nenhuma.

Foz do Iguaçu de fato tem um potencial turístico enorme. Em breve terá um aeroporto com uma pista mais longa (ela já foi ampliada, mas ainda não é operacional). E nos próximos meses o aeroporto passará a ser administrado pela iniciativa privada, com obrigações de ampliar o terminal e construir uma nova pista. Tudo isso ajuda, mas pode não ser o suficiente.

A questão é que é preciso paciência e analisar tudo com calma. Seria ótimo para o estado e para Foz um voo direto para os Emirados Árabes. Olhando o cenário hoje, é difícil imaginar que a empresa vá voar para Foz em um futuro próximo. Até porque para isso se tornar realidade, é preciso muito mais do que apenas um dossiê bonito e um encontro em Dubai.

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