O aeroporto Afonso Pena, em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, é a joia da coroa do pacote de nove aeroportos que compõem o Bloco Sul e deixarão de ser administrados pela Infraero para serem entregues à iniciativa privada após o leilão da 6.ª rodada de concessões, marcado para a próxima quarta-feira (7).
Além do Afonso Pena, também estão no Bloco Sul os terminais paranaenses do Bacacheri, Foz do Iguaçu e Londrina, os catarinenses de Joinville e Navegantes e os gaúchos de Bagé, Pelotas e Uruguaiana. A concessão valerá para os próximos 30 anos.
O aeroporto em São José dos Pinhais é, de longe, o mais importante desse pacote. Além de ser o mais movimentado, é também o mais lucrativo. E certamente poderia ser leiloado individualmente, mas acabou fazendo parte de um bloco, uma estratégia utilizada pelo governo federal desde a última rodada para conseguir emplacar terminais menores e deficitários.
Ser o principal do Bloco Sul significa também receber o maior investimento por parte da concessionária que assumir a administração. A previsão é que sejam destinados R$ 566,2 milhões para a realização de obras no local.
Esse valor, porém, era bem menor no lançamento do edital, ainda em 2019. O Afonso Pena tinha investimentos projetados em R$ 310,1 milhões, atrás de Foz do Iguaçu e Navegantes. Mas a inclusão da obrigatoriedade da construção da terceira pista ao longo do processo fez o jogo mudar. Sobrou para os outros aeroportos.
A tão esperada terceira pista do Afonso Pena será construída
Quando o edital da 6.ª rodada de concessões de aeroportos foi lançado, não havia a previsão da construção da terceira pista do aeroporto Afonso Pena. Os estudos de projeção de demanda não indicavam a necessidade dessa intervenção, seja para o uso da aviação comercial ou para o transporte de cargas.
A ausência dessa obra foi recebida com um bom grau de indignação por parte do governo do Paraná e de algumas entidades da sociedade civil, como a Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), afinal essa seria a oportunidade ideal para fazer sair do papel a tão desejada terceira pista, necessária ou não.
Houve uma mobilização importante para sensibilizar o governo federal para que acrescentasse a obra ao edital. Esse assunto dominou a audiência pública realizada em março de 2020. E a pressão acabou dando resultado na revisão do edital, com a inclusão da terceira pista como obrigatória. O governo federal deixou claro, porém, que esse movimento foi tomado apenas por questões de política pública e não baseado em dados técnicos.
Hoje, o Afonso Pena tem duas pistas: a principal com 2.218 metros de comprimento e a auxiliar com 1.798 metros. Devido à altitude do aeroporto, que é de 911 metros, os aviões operam com restrições, especialmente na decolagem. Isso significa que não é possível que uma aeronave decole de São José dos Pinhais para destinos na Europa ou Estados Unidos com plena capacidade, seja de passageiros ou de carga.
A nova pista, com 3 mil metros de comprimento, por outro lado, permitirá esse tipo de operação. Isso não significa que as companhias aéreas vão iniciar rotas ligando Curitiba diretamente a países na Europa ou cidades dos Estados Unidos, ou que os aviões cargueiros vão decolar com carga máxima para exportar produtos paranaenses e de Santa Catarina. Esse é um cenário pouco provável, inclusive. Eventualmente pode acontecer, mas as principais rotas desde o Afonso Pena devem se manter para destinos no Brasil e na América do Sul.
O principal ganho de uma nova pista está na melhoria da operação aérea. Ao contar com três pistas, o Afonso Pena terá mais agilidade nos pousos e decolagens e aumentará a capacidade de movimentos por hora. Além disso, caso a pista principal hoje fosse interditada por alguma obra ou acidente, muitos voos teriam de ser cancelados porque a pista auxiliar apresenta restrições. Com uma nova pista, numa eventualidade, não haveria grandes transtornos às operações.
Obras vão além da terceira pista
Apesar de ser a principal obra prevista para o aeroporto Afonso Pena, a terceira pista não é a única. Várias intervenções devem ser realizadas, não apenas para dar suporte à pista, mas também para aumentar a capacidade como um todo.
Estão previstas três fases de obras no Afonso Pena, sendo que a primeira é a mais robusta, inclusive com a desapropriação de imóveis próximos à futura terceira pista. Só com desapropriações, a previsão é gastar R$ 21,1 milhões.
Na primeira fase serão investidos R$ 431,3 milhões e as obras estão planejadas para ocorrer entre 2023 e 2024. São elas:
- Implantação de área de segurança (área de escape) nas quatro cabeceiras atuais;
- Deslocamento do eixo das faixas de taxiamento para ficarem mais afastadas da pista;
- Ampliação do terminal de passageiros de 77.160 m2 para 79.990 m2;
- Implantação de duas pontes de embarque (fingers), indo para um total de 16;
- Ampliação do pátio principal;
- Construção de um novo pátio;
- Implantação de novas posições remotas;
- Construção de uma nova pista com 3 mil metros de comprimento;
- Construção de faixas de taxiamento ligando os pátios à nova pista;
- Reposicionamento das posições de estacionamento no pátio de cargas.
A segunda fase, com obras entre 2028 e 2030, contará com R$ 67,6 milhões em investimentos:
- Implantação de uma ponte de embarque;
- Construção de faixa de taxiamento até a cabeceira 15;
- Ampliação do novo pátio;
- Implantação de 3 novas posições remotas de estacionamento.
Já a terceira e última etapa, que ocorrerá entre 2038 e 2040, custará R$ 53,7 milhões. As obras são as seguintes:
- Nova ampliação do novo pátio;
- Implantação de 2 novas posições remotas de estacionamento;
- Construção de faixa de taxiamento de saída rápida da pista;
- Implantação de uma ponte de embarque.
Curitiba terá um aeroporto para várias décadas
As grandes obras que a concessionária que vai administrar o Afonso Pena até 2051 terá de fazer são a terceira pista e as faixas de taxiamento dela até o pátio. Isso porque a empresa vai receber um aeroporto em boas condições e que atende praticamente a todos os requisitos atuais de operação.
O terminal de passageiros foi ampliado recentemente pela Infraero e passou de seis para 14 pontes de embarque. Antes mesmo da pandemia da Covid-19, sobrava espaço no Afonso Pena. Por isso, o tamanho do aeroporto hoje vai ser capaz de atender companhias aéreas e passageiros por vários anos. E com as pequenas ampliações previstas no terminal, o aumento futuro da demanda não deve exigir da concessionária grandes ajustes.
O certo é que o aeroporto Afonso Pena será melhor do que já é. Do lado do passageiro, não há muito para se reclamar hoje, pelo contrário. O terminal é confortável, espaçoso e atende totalmente às necessidades atuais.
O grande benefício será mesmo do lado da operação aérea, com mais agilidade nos movimentos — com a possibilidade de operações simultâneas de pouso e decolagem —, na fase de taxiamento, além de contar mais espaço para estacionamento de aeronaves. Em resumo, a operação ficará ainda mais segura.
Para ir além
Sobre o/a autor/a
Gustavo Ribeiro
Jornalista e mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade Fernando Pessoa (Portugal), pesquisa e escreve sobre aviação desde 2006.