Gol de quem se posiciona

É preciso escolher lados em determinadas questões. E essa decisão, quase sempre, vem com o ônus e o bônus. Ter a coragem de levantar bandeiras não é pra qualquer um...

Times de futebol têm o poder de mobilizar milhares de pessoas, literalmente, e despertar paixões, por vezes, irracionais. Basta dar um Google pra ver imagens assustadoras de violência.

Mas, felizmente, alguns clubes estão percebendo que podem usar essa influência para o bem e de quebra dar uma lição de POSICIONAMENTO a muitas marcas nas mídias sociais.

Em meio à tragédia ambiental no mar do nordeste brasileiro, com as praias poluídas e voluntários tentando limpar as manchas de óleo praticamente “à unha”, o Bahia anunciou que vai jogar a próxima partida com um protesto na camisa, pedindo a punição dos responsáveis e medidas efetivas de recuperação das praias. O clube também lançou um manifesto em seu site.

Toda vez que eu vejo esse tipo de ação, fico tentando imaginar como deve ter sido a tomada de decisão até chegar a ela. Foi uma jogada de marketing? Uma preocupação genuína? Gerou discussão interna? Alguém disse: vai dar merda e vamos perder patrocinadores com suas marcas atreladas a um protesto político? Eles foram consultados?

Mas, no fim, o que importa mesmo é o resultado. Se a ideia era chamar atenção para o problema gravíssimo, funcionou. Se era conquistar o coração de futuros torcedores ou a simpatia, também funcionou. Claro que também gerou (poucas) críticas; mas tá no risco de decidir por não se calar. 

Na última sexta-feira (18), a página do Santos Futebol Clube no Facebook publicou um post corajoso pedindo que as pessoas preconceituosas deixem até mesmo de torcer para o time. Esse é um tema delicado no futebol, cenário no qual durante muitos e muitos anos os xingamentos foram considerados normais. Brincadeira de estádio, né?

O Santos não foi o primeiro, só o mais recente. Em maio, no dia de combate à homofobia, o mesmo Bahia lançou uma série de camisetas comemorativas e também se posicionou nas mídias sociais. 

Em setembro agora, o Atlético Mineiro contrariou sua torcida organizada e foi pras redes sociais falar que discordava do grito homofóbico de “Bolsonaro vai matar viado”. Dê uma olhadinha nos comentários:

Toda vez que um time de futebol se posiciona, a repercussão é quase sempre mezzo a mezzo. Tem quem elogie, sinta orgulho, valorize. Mas há sempre quem responda com ainda mais violência, mesmo que virtual.

E esse não é um privilégio de time grande. Ainda em 2017, o Rio Claro Esporte Clube postou: “Não temos medo da sua homofobia disfarçada de zueira”. E são vários exemplos assim. 

Há quem diga que o mundo está ficando mais chato e o politicamente correto, “tirando a graça” das pequenas tradições. Fato é que as marcas – e, sim, os clubes de futebol são empresas – estão percebendo que o público e a sociedade está cada vez mais exigente. Quem não mudar de discurso, vai perder. 

É preciso, cada vez mais, escolher lados em determinadas questões. E essa decisão quase sempre vem com o ônus e o bônus. Ter a coragem de levantar bandeiras não é pra qualquer um. 

Mas os times de futebol, apesar de administrarem paixões e um público de pouca razoabilidade, vêm trazendo um desafio interessante: o de não se omitir. 

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