Crise ou estratégia? As cortinas de fumaça do governo Bolsonaro

Melina Santos pergunta se Bolsonaro precisava mesmo ir a público perguntar o que é "golden shower". A estratégia é escandalizar?

Eu não poderia começar esse texto sem citar a polêmica mais recente, de repercussão internacional: o vídeo postado no Twitter de um presidente da República com alguém urinando no carnaval e a – ainda pior – pergunta “o que é golden shower?”

Ainda é MUITO cedo pra dizer, mas me parece pouco crível que essa pergunta não tenha sido intencionalmente polêmica. Quem, em sã consciência e em pleno 2019, não faria o mesmo que a maioria dos mortais e colocado no Google pra saber a resposta sem alarde? Ou quem, tendo o mais alto cargo e vários assessores, não teria dado um grito e perguntado: ô fulano, o que afinal é isso aí?

O resultado veio rápido: no meio da tarde de quarta-feira (06), o assunto dominava os trending topics do Brasil e também mundial do Twitter.

É preciso lembrar que os dois tweets vieram depois de uma onda de protestos contra Bolsonaro nos bloquinhos e desfiles de carnaval. Ou seja, não é difícil supor que ele estivesse com o sangue fervendo. Mas a repercussão foi muito maior do golden shower do que dos protestos. (ALERTA DE FUMAÇA)

Apesar de ter desagradado até mesmo apoiadores, o discurso reforça (E MUITO) a postura moralista que faz parte do movimento que o levou até o Planalto.

Mesmo que haja uma estratégia – o que eu, por dever de ofício, não posso deixar de considerar – a vocação do atual governo (e família) para polêmicas nas redes sociais parece estar competindo com um reality de celebridades.

Não temos uma resposta pronta tipo um manual para a discussão sobre quais os limites da postura de um presidente nesse ambiente tão aberto quanto a internet. Depois do Trump, parecia difícil termos uma situação ainda mais delicada (e ele por si só vale outro post).

O ponto é que tenho minhas dúvidas sobre a utilidade de cada uma dessas “crises” virtuais.

(Aliás, o Caixa Zero calculou uma média de um escândalo a cada três dias na atual gestão)

Como essa treta ainda é “muito fresca” pra que possa ser analisada com o contexto que ela merece, separei outros três exemplos que mobilizaram as redes sociais e funcionaram muito bem como cortina de fumaça enquanto o governo fazia outras movimentações políticas.

Meninas de rosa, meninos de azul

A ministra Damares coleciona polêmicas desde antes de assumir o cargo. No dia da posse, ao defender que uma nova era estava começando em que meninas usam rosa e meninos azul, causou furor na Internet. Várias marcas, inclusive, se posicionaram.

Enquanto isso, repercutiu pouco a postura de restrições a jornalistas durante a cerimônia de posse do presidente eleito.

2. A filmagem do hino

Boa parte das escolas, públicas e particulares, mantém a tradição de que as crianças cantem o hino nacional pelo menos uma vez por semana. Isso não é e nunca será um problema.

Mas, em fevereiro, um documento do Ministério da Educação incentivou que professores e diretores gravassem imagens das crianças cantando e enviassem ao MEC. Imediatamente, a medida foi criticada inclusive juridicamente e o governo voltou atrás.

No mesmo dia, estouraram as denúncias do já famoso laranjal do PSL. Não se ouviu falar tanto nisso quanto na polêmica do hino…

3. Conversar no WhatsApp é conversar?

Essa foi digna de barraco de família mesmo, com direito a bate boca no Twitter e queda de Ministro. Depois das denúncias dos laranjas, um dos nomes mais próximos ao presidente deu uma entrevista dizendo que tinha conversado sobre o assunto com Bolsonaro, o filho foi pra rede social chamar o ministro de mentiroso e Bebianno acabou demitido. A novela mexicana acabou (pelo menos por enquanto) com os áudios do zap vazados que não só comprovam a conversa como mostram o presidente tentando justificar que conversar no whats não é a mesma coisa que conversar.

Isso tudo em meio aos acordos políticos para a aprovação da Reforma da Previdência e do Pacote Anticrime.

A cada trending topic semanal, fica mais difícil saber até onde cada uma dessas polêmicas é pura falta de VDM ou se podem fazer parte de uma estratégia maior para desviar a atenção de outras crises do governo. A velha e batida tática do bode na sala.

Sobre o/a autor/a

Compartilhe:

Leia também

Melhor jornal de Curitiba

Assine e apoie

Assinantes recebem nossa newsletter exclusiva

Rolar para cima