É sábado, muita gente está de folga.
Mais de 15 mil mortes por Covid-19 e o quarto lugar do mundo em número de casos (e contando, em curva exponencial).
Sem Ministro da Saúde. Pessoas com auxílio emergencial de R$ 600 NEGADO pra sobreviver. Dólar a R$ 6.
Meio país esperando o próximo capítulo da batalha Bolsonaro x Moro.
E um dos temas mais discutidos no Twitter é… o Madero. Sim, de novo.
Sim, pelo mesmo motivo: mais uma declaração infeliz do fundador e chefe Júnior Durski.
Em março, logo no começo da pandemia, Durski já foi alvo de muita repercussão negativa ao dizer que o país não poderia parar por umas 7 ou 8 mil mortes.
Eu não conheço o Durski, nem nenhum conhecido dele. Até um tempo atrás, sempre respeitei a história que é contada da criação do negócio, da geração de empregos, do bom atendimento na maioria das vezes em que estive em um de seus restaurantes. Era fã do palmito assado, do chope no caneco congelado, da maionese e da decoração de bom gosto, confesso.
Imagino que, pelo tamanho do império, ele esteja cercado de bons assessores.
Mas vou ter a ousadia de dar três sugestões (sem ser chamada, obviamente)
1- Olhar ao redor
Amado, alecrim dourado, não é só o seu negócio que – embora aberto – está com 10% do movimento normal. Tem pessoas que dependem de suas lanchonetes, bares e restaurantes pequenos literalmente pra comer. Estão se endividando, vendendo itens pessoais pra pagar seus funcionários. Choram, dia e noite. Alguns, mais corajosos, criaram até um movimento chamado Fechados pela Vida.
Todos tiveram que se reinventar, não é seu caso especial. Mas, meu amigo, postar foto de vinho de R$ 300 reais no Instagram não vai ajudar depois de todas as declarações polêmicas.
2- Prezar pela coerência
É clichê de toda mãe e eu digo isso pra minha filha de 11 anos. Não adianta pedir desculpas e não mudar de comportamento, continuar fazendo tudo igual. O arrependimento fica vazio.
No dia seguinte à primeira polêmica, Durski postou um segundo vídeo em que diz:
Por favor, me desculpem se fui mal interpretado!”
Era tarde e o estrago estava feito.
Prometeu que manteria os empregos e, dias depois, dispensou 600 pessoas de uma só vez.
Três dias depois dessa demissão em massa, distribuiu sanduíches de graça para caminhoneiros à beira da rodovia.
Era tarde e o estrago estava feito. Soou demagogia. Assim como trocar a foto de perfil por uma imagem escrita “tamo junto”.
Por vezes, até o pedido de desculpas e as medidas de contenção demoram.
Até esse texto ser escrito – às 21h30 – nenhum esclarecimento sobre a nova polêmica. Nem na conta do @MaderoBrasil e nem na do próprio Durski.
3- Trocar de porta-voz e preservar sua imagem
Talvez esse seja o conselho mais importante do momento.
É tarde, o estrago está feito.
De todas as vezes em que Júnior Durski foi a público falar alguma coisa durante a pandemia, o impacto geral foi negativo. Era melhor ter ficado em silêncio. Sua postura é contraditória a todo o marketing construído pela companhia nos últimos anos. Se continuar, as consequências para a imagem do Madero podem ser irreversíveis.
Os negócios vão mal não só porque as pessoas estão com medo de sair de casa. O volume de pedidos por delivery, segundo as pesquisas, aumentou e eles têm estrutura pra isso. Mas é fato que muita gente deixou de consumir produtos da rede porque se decepcionou com o posicionamento de seu dono que – inevitavelmente – se torna o posicionamento da marca da qual é proprietário, fundador e garoto-propaganda.
O melhor, agora, é se recolher. Dar uma de Gabriela Pugliesi e dar um tempo.
Enquanto isso, uma chance pra empresa tentar superar a crise acumulada seria nomear um novo porta-voz, adicionar um pouco de humanidade ao discurso e tomar medidas que vão além de distribuir sanduíche na estrada.
Sobre o/a autor/a
Melina Santos
Melina Santos é jornalista com MBA em Jornalismo Digital e social media. Estuda a Internet desde quando ainda tinha que esperar meia-noite pra gastar só um pulso. Apaixonada por memes, vai falar também sobre crises digitais (e principalmente como fugir delas).