Começo essa coluna com um pedido de desculpas pelo palavrão, mas sabe quando não há nenhuma outra palavra pra descrever uma situação?
[Como quando a gente bate o dedinho do pé na quina do sofá…]
É assim com o processo que deveria estar no meio de toda ação de comunicação e, especialmente, de mídias sociais. É ter alguém que pergunte: vai dar merda? Daí, o VDM.
A frase não é minha, foi dita por Chico Buarque ainda na época em que Lula era presidente numa entrevista ao Jornal O Globo:
– A cada decisão importante, esse ministro seria chamado. Se o governo decide recadastrar os idosos, o Lula convoca o ministro e pergunta: “Vai dar merda?” O ministro analisa o caso, vê que os velhinhos vão ser humilhados nas filas, e responde: “Vai dar merda”. No caso da briga com o “New York Times”, era só chamar esse ministro e perguntar: “Vamos expulsar o jornalista. Vai dar merda?” O cara ia analisar e responder: “Vai dar merda”…
E olha, se muita gente usasse esse ministério nas mídias sociais, muitos desastres de imagem já teriam sido evitados. No meio da empolgação, quando uma ideia parece genial, pode ser que o gênio não consiga avaliar com clareza quais as consequências. Mas alguém de fora precisa fazer essa pergunta.
Numa busca simples no Google, o termo “post polêmico” resulta em mais de 65 milhões de resultados. Não é à toa.
Em alguns casos, o risco vai ser calculado e assumido. Mas em outros, talvez seja preciso corrigir o rumo antes de apertar o botão azul de publicar.
(agora mesmo, troquei o GIF que estava aqui porque minha consciência cochichou: esse aí VDM)
Quando uma ação como a da marca de cosméticos Jendayi vai pro ar, minha primeira reação é sempre: será possível que isso passou pela mão de tantas pessoas e NENHUMAZINHA alertou que isso vai dar merda?
Quando a primeira dama do país mais poderoso do mundo escolhe “despretensiosamente” uma jaqueta com a frase “I really don’t care, do u” (eu realmente não me importo, e você?) enquanto milhares de imigrantes ilegais agonizavam em jaulas, ou é muita arrogância ou muita displicência. Fica difícil acreditar em ingenuidade.
Em outros casos, a “crise” na rede social acaba sendo causada por uma mistura da vontade de acertar nessa linguagem mais descontraída – em que cabe sim um pouco mais de humor – com a ressalva de que alguém talvez não tenha prestado bem atenção.
Esse post da prefeitura de Goianira foi apagado depois que o caso repercutiu nas próprias mídias sociais.
Mas na Internet, não existe o botão despublicar. Uma vez que foi pro ar, alguém já fez print e a emenda pode sim ficar muito pior do que o soneto.
Mas isso é assunto pra próxima coluna.
? Em caso de desespero, não apague.
Sobre o/a autor/a
Melina Santos
Melina Santos é jornalista com MBA em Jornalismo Digital e social media. Estuda a Internet desde quando ainda tinha que esperar meia-noite pra gastar só um pulso. Apaixonada por memes, vai falar também sobre crises digitais (e principalmente como fugir delas).