Desempregada, criadora da Caipirinha da Bru usa auxílio emergencial e abre negócio que emprega 50 pessoas

Bruna Franzoi, mãe de dois filhos, se viu desesperada e realizou um feito heroico para salvar a si mesmo e sua família

Talvez você já tenha lido uma porção de histórias falando sobre reinvenções de negócios durante a pandemia. A maioria com um tom romântico em que o espírito do empreendedor superou as dificuldades do destino e se reinventou. Palavra essa já bem batida a essas alturas. A tão falada reinvenção veio com sangue, suor e lágrimas, imersa em incertezas e muito mais difícil do que pintam. Hoje quero falar de uma dessas pessoas, que com garra e muita luta, passando por imensas dificuldades, conseguiu se reerguer do pior momento de sua vida, a Bruna Franzoi, de 27 anos, criadora da Caipirinha da Bru.

Em março de 2020, quando a pandemia de Covid-19 chegou em Curitiba, junto com o medo da doença, de um colapso do sistema de saúde e com as vendas em queda em vários setores da economia, veio a tempestade perfeita: uma pandemia global, uma crise econômica geral, e com certeza, ainda mais agravada no Brasil que já vinha sofrendo com a alta do dólar. Aos poucos foram acabando insumos básicos como vidro, plástico, papel, os alimentos dispararam de preços, bem como todo bem de consumo. E o pior de tudo, o desemprego galopante em um país que já estava com dificuldades de gerar postos de trabalho. Vários brasileiros entraram na linha da pobreza novamente, com o custo de vida subindo exponencialmente.

A vida ficou mais cara, mais difícil, mais assustadora.

Bruna foi uma entre milhões de brasileiros que perderam sua fonte de renda. Antes da tormenta do Covid-19, ela trabalhava em uma empresa do mercado financeiro junto com alguns de seus seis irmãos. Todos tiveram redução de salário e acabaram perdendo os empregos, Bruna e seu irmão Yuri foram demitidos no meio da pandemia. Mãe de 2 filhos, recém-separada já de um relacionamento de 10 anos, Bruna se viu sem alternativas para seu sustento, assim como seu irmão também desempregado pela pandemia.

A primeira ideia que surgiu foi tentar fazer quitutes para delivery, mas o negócio dependia da mão boa para fazer quitutes de sua mãe Ivone, que seria a cozinheira do empreendimento. Infelizmente, a cozinheira escalada já tinha um emprego fixo durante o dia e a operação ficou inviável. Não daria para mãe cozinhar para que os filhos pudessem vender.

Sem muitas alternativas, Franzoi tentou buscar algo que fizesse bem e que pudesse vender. Na pior fase de sua vida, sem qualquer perspectiva de abertura de vagas durante a pandemia, perguntava para Ivone: “mãe, mãe, o que vamos fazer?”. Nesse momento bateu a lembrança de que seus amigos gostavam muito da sua caipirinha. Ela gostava de preparar o coquetel para os amigos e amigas, que sempre elogiavam, mas nunca conseguiam replicar suas famosas receitas. Sempre inventando receitas novas, gostava muito de servir os amigos com seus drinks especiais. Bruna pensou então “se tem uma coisa que eu sei fazer são caipirinhas”. Foi nesse momento que a ideia de criar um negócio para delivery ocorreu e começou a nascer a Caipirinha da Bru.

Quando preparava em churrascos, fazia sempre sua caipirinha em potes de conserva. Mas para entrega, ela decidiu que queria fazer uma bebida para ser compartilhada. Afinal esse é o espírito da caipirinha, uma bebida para ser compartilhada em momentos de felicidade. Algo que a pandemia infelizmente nos tirou da nossa cultura cotidiana. Sem ter certeza de que sua ideia daria certo, Bruna pegou parte da sua parcela do auxílio emergencial de mãe e chefe de família, cerca de R$ 1.200, e apostou na sua ideia. Usou o dinheiro para comprar algumas bebidas e na casa de embalagem, ficou apaixonada por uma embalagem charmosa, um baldinho de 1,5 litro, que encontrou entre as opções e que serviria perfeito para ser um drink para compartilhar em casa para delivery. Imersa em incertezas e com medo de ter arriscado o pouco dinheiro que tinha, ela conta que teve um momento de muita fé e sentia a certeza de que o negócio daria certo. “Eu pensava muito, será que isso vai dar certo? Até meu pai disse que eu estava louca” conta, hoje, aos risos.

No primeiro dia de delivery, a comandeira de pedidos ficou cheia. Crédito da foto: arquivo pessoal.

Seu irmão topou ajudar no novo negócio e dali em diante tudo aconteceu muito rápido. Aproveitou sua criatividade e desenvolveu receitas especiais para o delivery do negócio batizado de Caipirinha da Bru. Com cerca de 50 baldes de embalagem comprados, no primeiro dia de vendas ela conseguiu vender 30 unidades da sua caipirinha em uma quarta-feira. Ela fazia as caipirinhas na hora e seu pai entregava de carro. Foi uma loucura, conta ela. No segundo dia, ela já conseguiu contratar um motoboy para fazer suas entregas, porque já não conseguiam dar conta das entregas. Vendeu muitas caipirinhas também no segundo dia. No terceiro dia, mais um motoboy foi contratado para fazer as entregas e seu irmão precisou aprender as receitas secretas para auxiliar no negócio. No quarto dia, 3 motoboys. E assim seu negócio foi crescendo exponencialmente.

Sua casa começou a ser um ponto de retirada. “Não parava de chegar pessoas para retirar, ficávamos até as 5 da manhã, fazia filas e filas de carros, até no nosso dia de folga, segunda e terça, apareciam pessoas no nosso portão pedindo.” Apesar das incertezas e dos medos, da dificuldade em levantar um negócio sem dinheiro, sua ideia foi um sucesso espetacular.

Hoje Bruna Franzoi conta com 50 funcionários, entre eles 20 motoboys para realizar suas entregas. Além do delivery, passou a ter pontos físicos para retirada no balcão. Já são 3 lojas: uma no CIC, na Rua Antônia Molina Bella, 131; outro no Sítio Cercado, na Rua Cruzeiro do Sul, 511; e em Fazenda Rio Grande, na Avenida das Araucárias, 526.

Crédito da foto: arquivo pessoal.

Como funciona a Caipirinha da Bru

O delivery e retirada no balcão funcionam de quarta à domingo, seu menu conta com diversas receitas com a cara de festa entre amigos, descontraídas e divertidas, todas muito tropicais e usando frutas frescas. Os drinks e caipirinhas começam na faixa de R$ 14,99, com 500 ml até opções de litro e um litro e meio. Também conta com opções sem álcool, chamadas por ela de “espaço kids e gestante”. Ela indica as caipirinhas com sabor de morango com limão e limão com yakult, mas como boa vendedora diz que é difícil escolher, são todos ótimos, diz com orgulho da sua criação. Para pedir basta entrar no Instagram, em que são apresentadas todas as opções ou diretamente pelo seu site.

Ingredientes que prontos para virarem drinks da Caipirinha da Bru. Crédito da foto: arquivo pessoal.

Bruna Franzoi e sua Caipirinha da Bru são um milagre pessoal de alguém que arriscou aquilo que não tinha, com muita força e garra, para conseguir abrir um negócio que deu muito, muito certo. Pode soar fácil, mas se você conseguir se colocar no lugar de uma mãe desempregada, que teve de arriscar uma parcela de seu auxílio emergencial, sabemos que as coisas foram infinitamente mais difíceis para ela do que poderiam ser. Infelizmente histórias como a dela são exceções em um país que não oferece crédito fácil ou investimento para novas ideias. Quantas Brunas nos recôncavos do Brasil hoje poderiam estar empreendendo e tendo seus negócios se tivessem tempo, estrutura, preparo e um pequeno investimento? Não dá para arriscar deixar de colocar comida na mesa de casa para criar seu próprio negócio.

Hoje o sonho de Bruna Franzoi é construir mais lojas para que ela possa empregar todos os seus 6 irmãos.

Que ela possa realizar seu sonho e que nós possamos ser um Brasil em que mais Brunas possam ter o direito de sonhar e realizar.


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