Dia do Índio? A luta pela vida dos povos indígenas

Quando deixamos de ouvir a pluralidade de vozes em nossa sociedade perdemos a chance de inovar verdadeiramente

Lá no jardim de infância, as datas celebrativas ganhavam atividades especiais, a intenção era promover uma conexão prática com o cotidiano. No dia 19 de abril, por vezes confeccionamos cocares, pintamos o rosto e desenhos de figuras caricatas na intenção de representar os povos indígenas brasileiros. A sensação ao recordar esse momento é de uma abordagem distante, de uma cultura que parecia não existir mais, uma perspectiva folclórica e excludente dos originários desta Terra.

Essa forma de viver não é distante, é apenas distinta do que a literatura e a mentalidade de colonização ensina como desenvolvimento e evolução. Portanto, refletir sobre as questões indígenas, valorizar seus ensinamentos e, principalmente, reconhecer seus direitos conforme previsto na Constituição, são essenciais para nosso tempo, e nunca deixaram de ser relevantes. Aqui ecoa em nossas mentes um dos pensamentos de Ailton Krenak, que é filósofo, ambientalista e um dos criadores da ONI, União das Nações Indígenas, de que, o que denominamos como ‘civilização’ está impedindo outras formas de existência.

No auge da nossa experiência individual e encaixotada da cidade é fácil esquecer a origem das coisas. Precisamos compreender que as margens sustentam as cidades e, para além disso, que o modelo de exploração, herança colonial, está minando as várias formas de existir e viver.

Não, não estamos abordando a preservação da cultura indígena em museus. Essa prosa é sobre o que está sendo feito hoje, para garantir a existência do Planeta Terra e de seus diversos povos. Como olhamos para a cultura e saberes dos Indígenas em 2022? Nós os escutamos e respeitamos seus espaços e saberes?

Recentemente a rapper e ativista Katú Mirim, lançou um vídeo pedindo respeito ao uso de fantasias em festas e no carnaval, o vídeo acompanhado da hashtag ‘#indionãoéfantasia’ dividiu opiniões e em entrevista ao G1 Katú nos deixa a reflexão:  “Eu não vim dizer o que as pessoas podem e não podem fazer, vim pedir para elas refletirem sobre nossa existência. Eu tenho muitos vídeos didáticos, eu canto, mas nunca me escutaram. No momento que eu faço um vídeo curto pedindo respeito, eles me massacram. Eu peço que olhem para os povos indígenas, nos respeitem, lutem conosco”.

A sustentabilidade desse planeta nos pede, talvez grite, que aprendamos com quem preservou primeiro, com quem conhece a terra que pisamos, você já parou para pensar de onde vem nosso desinteresse e resistência?

Sem rótulos ou patrocínio ao longo dos últimos cinco séculos, paralelamente ao processo civilizatório, os povos originários brasileiros estão reivindicando o direito de existirem. Em 2022, o Acampamento Terra Livre completa 18 anos de mobilização dos povos indígenas, realizado tradicionalmente em Brasília (DF), durante o mês de abril.

Foto: Jairo Soares/Unsplash.

O que é demarcação e Marco Temporal?

Anualmente a questão dos direitos e demarcação de terra continuam sendo as principais bandeiras, principalmente diante das crescentes ameaças recebidas e do avanço da mineração. O garimpo enfraquece a terra e cessa vidas, além de retroalimentar a lógica civilizatória de utilização máxima dos recursos naturais.

Temos ainda a questão do Marco Temporal (PL 490/2007) e você não deveria viver nesse planeta sem interesse nesses assuntos, e por que? Por apoiar a sustentabilidade da vida, ou da sua casa, da sua empresa, do seu emprego e dos futuros jovens passa por esse conhecimento.

Demarcar terras indígenas tem por objetivo garantir o direito dos povos originários à terra. Ela deve estabelecer a real extensão da posse indígena, assegurando a proteção dos limites demarcados e impedindo a ocupação por terceiros.

Atualmente o Brasil possui 13% de terras indígenas demarcadas, dessas apenas 2% estão fora da Amazônia. Ou seja, o poder público das regiões nordeste, centro-oeste, sul e sudeste estão em débito com a história, colocando os colonizadores de terras como ‘heróis’ e os moradores, desde o ano de 1500, como invasores de suas próprias terras. A cultura indígena preserva espaços e nutre a sustentabilidade do planeta. Há uma relação circular e não hierárquica com a natureza que essa cultura cuidadosamente nos ensina. Negar esse espaço é negar o direito à vida e a dignidade desses povos.

É preciso muito cuidado com a leitura da história. Aprendemos uma versão, porém a narrativa não é, e não pode ser, única. É preciso respeito à cultura e a história de quem existe muito antes de nós e que nos propiciou este hoje. E hoje, podemos construir um futuro possível que contemple a diversidade de narrativas e existências.

Como podemos construir esse futuro diverso?

Tem futuro? Como nós, não indígenas, podemos aprender e atuar nessa reconstrução de narrativas em prol desse futuro:

  • Vamos nos colocar em nosso lugar, somos aprendizes. Precisamos desconstruir o que lemos nos livros didáticos, tudo que vimos e até celebramos no ‘dia do Índio’. Inclusive, é um bom começo aprender a não utilizar a nomenclatura Índio;
  • Precisamos ler a história contada não pelos europeus que nos colonizaram, precisamos nos abrir para ler a história contada pelos povos originários (conheça algumas publicações);
  • Vamos olhar para como estão os Indígenas em nosso estado, quando falamos do Paraná e de Curitiba, como vai este cenário (opção para leitura)
  • É importante ler e conhecer o panorama do Marco Temporal, além disso é possível acompanhar, apoiar e fomentar a discussão que está acontecendo até 14 de abril com a temática ‘Retomando o Brasil: Demarcar Territórios e Aldear a Política’. É preciso aprender e mobilizar mídia, conteúdos e textos para que possamos dar voz e ouvidos a essa história que não nos foi contada (entenda aqui)
  • E mais uma vez, nosso futuro depende da nossa responsabilidade política antes, durante e depois do voto.

Como é esse tema para você? Se sente disposto a ler e criar movimentos para um futuro plural?

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