A voz indígena ressoa ao redor do mundo: é a voz do planeta

O planeta pede uma vida circular onde uma existência nutre a outra

Quando falamos que a luta dos povos indígena é pela vida, precisamos compreender que é pela vida indígena e pelo respeito que devemos à eles e é também pela existência de todos nós. A luta é pela vida do planeta Terra.

O que a colonização nos tirou é a sensibilidade para uma vida que não escraviza outras vidas, que não destrói para construir, o que os povos originários nos chamam a olhar é que pode existir uma vida que é sustentável fora da exploração irrestrita dos recursos naturais e de outras vidas. Como em um círculo onde uma existência nutre a outra.

Quem chegou antes luta pelo futuro na COP26

A COP, Conferência das Partes, é uma conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, a mais recente, a 26.ª, aconteceu em Glasgow, no Reino Unido, em novembro de 2021. Você acompanhou? É um assunto que por vezes fica distante da nossa realidade diária e cheia de afazeres. Um importante movimento para pensar futuros é entender como essas reuniões e decisões afetam nossa vida em sociedade, mas a ideia não é colocar mais um peso ‘dizendo o que você não leu, não assistiu e não curtiu’, queremos apenas te contar algumas coisas que podem te ajudar a refletir conosco.

Esse é um evento anual, que ocorre há 26 anos, e estabelece as obrigações básicas das 196 partes (Estados) e da União Europeia para combater as mudanças climáticas, para cuidar do meio ambiente e do desenvolvimento, e foi a primeira vez que os povos indígenas tiveram voz nas mesas de discussões. Faz sentido pensar em meio ambiente e futuro quando ele não inclui todas as vozes? Ainda assim, é uma importante e necessária conferência e tivemos mais de 40 representantes dos povos originários brasileiros participaram.

Foi o maior grupo de representantes do nosso país, com lideranças formadas por mulheres e jovens mulheres, dentre elas Sônia Guajajara e Joênia Wapichana (Rede-RR), única deputada federal indígena do Brasil, e Txai Suruí.

Txai discursou na COP e lembrou dos ensinamentos de seu pai e da sabedoria de viver em harmonia com a natureza, relembrou os irmãos mortos por defender a Terra, por denunciar explorações de madeira, do solo e das florestas. Txai que é fundadora do Movimento da Juventude Indígena em Rondônia, nos explica de forma bem didática:

“Hoje o clima está esquentando, os animais estão desaparecendo, os rios estão morrendo, nossas plantações não florescem como antes. A Terra está falando, ela nos diz que não temos mais tempo”

Na esfera internacional, as denúncias expostas são em relação ao genocídio indígena, o ecocídio, de acordo com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), os povos indígenas cuidam de 80% da biodiversidade do planeta e recebem menos de 1% do financiamento dedicado globalmente à redução do desmatamento. Um dos resultados dessa mobilização é que a partir da COP 26 governos e doadores privados se comprometeram a destinar US$ 1,7 bilhão (R$ 9,66 bilhões) diretamente para povos indígenas e comunidades tradicionais entre 2021 e 2025.

Assim, temos a chance de pensar no futuro do planeta e de forma financeira e intelectual construir um futuro possível. Sem pensar em novas formas de sobrevivência e de investimento não haverá um amanhã nesse planeta que nos abriga.

A vida existe antes da colonização

Os colonizadores europeus chegaram para civilizar os povos da selva que habitavam essas terras. E, pela força, tomaram posse não apenas do solo, mas da forma como a história passou a ser compartilhada. A verdade é que tudo estava aqui e por aí muito antes desse mundo ‘civilizado’, desde sempre havia vida e inteligência circular. Portanto, essa movimentação de energia e financeira, embora tardia, precisa acontecer e depende de cada um de nós estar atento à preservação do planeta, a novas alternativas de geração de energia (veja aqui o resultado da COP26) e as ações locais dos governantes.

Nesse momento, é um exercício de cidadania, uma convocação da vida selvagem, não para que todos se mudem para a selva, porém para que possamos permitir que a vida aconteça nas suas mais variadas formas e jeitos. É uma chamada que não pode ser atendida pelo aparelho celular, é um grito de socorro para nos unirmos e caminharmos conjuntamente para uma verdadeira mudança que não pode ser comprada em uma prateleira.

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