Levar a vida com leveza não é o mesmo que fugir dos problemas

Nos últimos dias tive muito tempo para refletir sobre atitudes minhas ou que percebo em quem convive comigo.

Então, se você está no meu meio, sim, você pode ser um exemplo aqui.

Eu cuido muito para não nomear pessoas nos meus textos. Mas às vezes elas se identificam, se ferem, mas quase nunca vêm falar comigo sobre. Por quê?

Eu prefiro pensar que é porque a pessoa ainda está refletindo e achando suas próprias respostas. Mas muitas vezes são pessoas que se afastam porque se recusam a admitir suas posições e estão carregando um peso que vai estourar lá na frente.

Da mesma forma que eu trago exemplos sem dar nomes aqui, eu também me atrevo a falar o que penso pessoalmente e, na maioria das vezes, eu me dou muito mal. Sabe por quê?

Porque a sinceridade pode ser algo insuportável para quem nos magoa.

Porque a sociedade não foi preparada para ouvir retornos.

Porque ao invés de fazermos uma reclamação no SAC, preferimos comprar um aparelho novo.

O que acontece é que com o tempo passamos por experiências que muitas vezes nos elevam a um nível de conselheiros naturalmente. Não que estejamos capacitados a aconselhar sobre tudo, é fato, mas isso ocorre porque queremos ajudar quem amamos, quem queremos bem. Assim é no mundo profissional.

Se queremos ter a eficiência de nossos funcionários, ou de trabalhadores que nos cercam e dos quais dependemos, normalmente entregamos o famoso feedback. A ideia é fazer com que aquela pessoa cresça, evolua e continue trabalhando mais e melhor até chegar num patamar em que ela possa ensinar outras pessoas.

Nos relacionamentos isso é (deveria ser) comum e saudável.

Existe muita gente hoje em dia optando pela vida leve, da qual eu sou uma adepta.

Eu busco paz. Eu busco harmonia e equilíbrio para os relacionamentos tanto profissionais quanto fraternais. Deixo bem claro o que não gosto e ouço com respeito o que, às vezes, me parece inaceitável de cara e depois posso acabar até entendendo.

Porém, tenho presenciado ao meu redor pessoas com o mesmo foco, mas que não querem dialogar quando algo incomoda.

Se isolam. Não tocam no assunto e voltam um tempo depois, aparentemente, melhores. E a palavra de perigo aí é “aparentemente”.

Eu fiz dessas recentemente em um caso de família, digamos assim. Falei o que quis.

Não quiseram estender a conversa. Eu respeitei, deixei assim mesmo e a vida seguiu.

No entanto, eu sou bastante sensitiva. Percebo muito facilmente quando algo não está muito bem e normalmente busco conversar por quê a comunicação é a chave de tudo.

Mas existem os que fingem que tudo está bem justamente para não terem que conversar.

E você sabe que não está bem porque sente.

Você não quer incomodar e faz o quê? Se cala.

Você tenta interagir pelas beiradas e percebe que não há interesse nem brecha. Então faz o quê? Se recolhe.

Ao invés da comunicação entrar em cena para resolver a situação, você se afasta até sair dela.

De repente você não faz mais parte daquela representação e aí o seu pensamento sozinho começa a trabalhar com o que quer de informação.

De repente, você, que era a pessoa que só queria ajudar, se isola socialmente porque, assim, você não vê os problemas. E como você não vê, também não “incomoda” com seus conselhos de experiência que são insuportáveis para alguns.

E aí você se torna uma pessoa diferente. Alguém muitas vezes triste e solitária, porque ao invés de se comunicar e usar seu poder e lugar de fala, você se fecha e entra no ostracismo social.

No universo profissional tenho encontrado muitas pessoas que vêm me contar que não entendem por que não são mais chamadas para trabalhar. Pessoas que nunca ouviram nada além de “não é nada pessoal, só estamos fechando essa vaga no momento” e um mês depois ela descobre outro profissional no lugar que era dela.

E aí essas pessoas começam a pensar em uma nova profissão, uma nova faculdade, um novo meio em que elas se sintam mais confortáveis: tudo, muitas vezes, só porque ninguém deu 10 minutos de conversa passando um feedback para estes profissionais!

A questão é que a falta de retorno é, muitas vezes, porque cada vez mais pessoas não conseguem ouvir sobre seus problemas.

Pessoas cada vez menos aceitam que não acertaram, que podiam ter feito melhor.

Não estou falando de humilhação, não. Estou falando de autoavaliação.

Pessoas que não sabem ouvir são perigosas em vários aspectos: primeiro porque fazem mal a si mesmas sem perceber e se tornam adultos mimados e pouco evoluídos e, também, porque acabam fazendo mal a outras pessoas despreparadas que entenderão que não devem falar, o que pode gerar transtornos ainda maiores, como a própria depressão.

Onde está a humildade das pessoas, especialmente as da nova geração?

Não podemos falar nada que já se magoam ou ficam soberbas, arrogantes, achando que tudo não passou de uma dor de cotovelo, descrentes de que erraram.

Pais e mães têm evitado discussões com os filhos em nome da “leveza”.

Mas ouvir faz parte do aprendizado do ser humano!

É preciso muito discernimento aqui: Há uma diferença grandiosíssima entre arrogância e autoestima alta.

Uma coisa é ser capaz e saber disso!

Outra coisa é achar que é capaz e não fazer nada pra isso acontecer!

Se eu posso dar dois conselhos hoje, sem melindres, lá vão eles:

  • Ouça com respeito quem tem mais experiência.
  • Ouça com amor qualquer um que se dispor a te ensinar.

No mínimo, você vai aprender: a fazer o certo ou o que não deve fazer.

Divórcios, rompimento de sociedades, demissões e falências se dão, muitas vezes, porque não nos prestamos a reaprender. Empresas preferem demitir a ter que ensinar.

Funcionários preferem se demitir a terem que aprender.

É mais fácil começar do zero e deixar tudo pra trás. Ir para um lugar onde ninguém sabe dos meus erros.

Se precisar recomeçar, ótimo. A gente precisa mesmo muitas vezes.

Mas façamos isso com humildade, com o aprendizado que a vida nos deu. Não porque não nos prestamos a ouvir.

Se fazemos nossa autoanálise, fica muito mais fácil recomeçar.

Do contrário, os problemas continuam e vão com você.

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