A arborização urbana é uma prática essencial para promover a saúde, o bem-estar e a sustentabilidade nas cidades. Ela não só embeleza o ambiente urbano, mas também oferece benefícios tangíveis para a qualidade de vida e o desenvolvimento sustentável

“Curitiba é a capital do greenwashing”, disse-me um amigo gaúcho radicado na República. Faltaram-me argumentos para rebater a acusação. Afinal, embora eleita a cidade mais inteligente do mundo por conta das ações e programas de planejamento urbano voltados ao crescimento socioeconômico e à sustentabilidade ambiental, basta transitar pelas ruas de Curitiba com alguma atenção para notar que nos últimos meses inúmeras árvores vêm sendo retiradas da paisagem urbana.

A extirpação do canteiro central da Avenida Victor Ferreira do Amaral e, mais recentemente, o anúncio de corte de inúmeras árvores na extensão da Avenida Arthur Bernardes – agora suspenso mediante liminar obtida pelo Ministério Público – fomentaram o debate sobre as florestas urbanas. Na minha percepção, esse foi o único resultado positivo do massacre das nossas árvores.

O debate é acalorado. Na postagem do Instagram em que a prefeitura (tentou) justificar a atrocidade cometida na Victor Ferreira, entre diversas mensagens de cidadãos indignados, ousei manifestar-me. Afinal, entre outros argumentos, parece-me óbvio que, ainda que seja recomendável a retirada de árvores exóticas, as nativas, assim como todas as outras, levam anos para crescer. Não consegui encontrar justificativa plausível para a prefeitura contrariar a ciência climática e retirá-las do dia para a noite, sem consultar a população, senão a falta de planejamento e cuidado.

Notem que na minha ingênua manifestação não mencionei a desídia, tão somente a obviedade sobre o tempo de crescimento das espécies. Ainda assim, fui execrada. Alguém com mais tempo, entrou no meu instagram pessoal para certificar-se de que as ofensas fossem personalizadas, afinal “uma especialista deveria parar de falar bonito e defender o desenvolvimento”, constava em um trecho publicável. Fiquei sem compreender o porquê de tanto desdém, afinal, as árvores somos nozes.

Frequentemente vista como um mero elemento estético nas cidades, a arborização urbana vai muito além da simples ornamentação, desempenha um papel crucial na melhoria da qualidade de vida urbana e na promoção da sustentabilidade, serve, inclusive, como marcador de injustiça socioambiental. As árvores e florestas urbanas são uma solução comprovadamente barata e efetiva para desenvolver cidades mais saudáveis, seguras e resilientes, de forma que defender árvores nas ruas é defender a concepção mais contemporânea de desenvolvimento: o desenvolvimento sustentável.

Nos dias de pior qualidade do ar que estamos vivenciando, quem mora próximo a um bosque pode atestar a necessidade de manutenção e propagação das florestas urbanas.

Segundo o Instituto Água e Terra (IATPR), dentre os inúmeros benefícios que a arborização urbana pode trazer, constam: (i) controle da poluição do ar e acústica; (ii) aumento do conforto ambiental; (iii) estabilização de superfícies por meio da fixação do solo pelas raízes das plantas; (vi) interceptação das águas da chuva no subsolo reduzindo o escoamento superficial; (vii) abrigo à fauna; (viii) equilíbrio do índice de umidade no ar; (iv) proteção das nascentes e dos mananciais; (v) a organização e composição de espaços no desenvolvimento das atividades humanas; (vi) a valorização visual e ornamental do ambiente; além de (vii) recreação e diversificação da paisagem construída.

Além de fornecer múltiplos serviços ecossistêmicos, quando plantada da forma correta, as florestas urbanas podem aumentar o armazenamento e a captura de carbono, tendo a capacidade de impactar o balanço de carbono em nível municipal e compensar as emissões antropogênicas – de origem humana.

A arborização urbana perpassa os ODSs 11, 13 e 15 da Agenda 2030 das Nações Unidas (ONU). De acordo com o relatório mais recente da organização, intitulado “World Urbanization Prospects” publicado pelo Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais (UN DESA), as árvores ajudam a melhorar a qualidade do ar ao absorver poluentes atmosféricos, filtram partículas em suspensão e capturam carbono, desempenhando um papel crucial na mitigação das mudanças climáticas.

As árvores também desempenham um papel fundamental na regulação da temperatura urbana. Elas fornecem sombra e liberam vapor d’água através da transpiração, o que ajuda a reduzir a temperatura ambiente e, portanto, a necessidade de resfriamento artificial, contribuindo para a economia de energia e a redução das emissões de gases de efeito estufa, diz o relatório da ONU.

Convido-lhes a sentir a diferença, a sentipensar esse dado. Basta caminhar no sol a pino no bairro Alto da XV para perceber o conforto térmico da Rua Fernando Amaro, e a falta dele na paralela – Rua XV de Novembro. 

É inegável que as árvores têm um impacto direto na saúde física e mental das pessoas. O documento comprova que áreas verdes contribuem para a redução do estresse, promovem a recuperação mental e incentivam atividades ao ar livre – essenciais para um estilo de vida saudável. Ambientes arborizados também favorecem a socialização e o fortalecimento das comunidades, criando espaços de encontro e interação social.

Em linhas gerais, as árvores urbanas nunca foram valorizadas, mas a certeza de uma crise climática que afeta a todos impõe uma mudança paradigmática que passa, também, por valorizá-las e regulamentar sua permanência, renovação e disseminação.

Nessa toada, o senador Efraim Filho (União-PB), propôs que seja criada uma “Política Nacional de Arborização Urbana (Pnau)”, através do projeto de lei (PL) n. 3.113/2023, em que a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios passem a elaborar planos de arborização urbana, com duração ilimitada, horizonte de execução de 20 anos e revisão a cada cinco anos, no intuito de aumentar a presença de áreas verdes nas cidades. O PL 3.113/2023 está com a Relatora da Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo do Senado; você pode manifestar sua concordância ou discordância AQUI.

Em termos legislativos, no Brasil vale hoje o inciso XX do artigo 3º da Lei nº 12.651/2012, o “Código Florestal”, que define “área verde urbana” como “espaços, públicos ou privados, com predomínio de vegetação, preferencialmente nativa, natural ou recuperada, previstos no Plano Diretor, nas Leis de Zoneamento Urbano e Uso do Solo do Município, indisponíveis para construção de moradias, destinados aos propósitos de recreação, lazer, melhoria da qualidade ambiental urbana, proteção dos recursos hídricos, manutenção ou melhoria paisagística, proteção de bens e manifestações culturais”.

Logo, o Plano Diretor de cada município e outras legislações municipais específicas é que contêm regulamentações detalhadas sobre a arborização urbana, refletindo as necessidades e características locais. Com a proximidade das eleições municipais, considere saber o que seu candidato ou sua candidata planeja para as árvores da cidade.

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