Dia 30 – Comunista!

Era uma vez um presidente que se elegeu prometendo a cura gay e começou a cair por ser incompetente quando se trata de curar doenças de verdade

Mais um ministro fora do governo. Pela primeira vez, cai um ministro que tinha algum valor para o presidente. Do total de dois. Não sou bom em matemática, mas numa conta de padeiro, dá 50%, margem de erro de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. O resto, vamos lá, todos sabemos. É resto.

Moro agora é um comunista, que no dicionário bolsonarista significa “todo aquele que ousar discordar de Bolsonaro, nosso Deus, límpido, honesto, o Não Corrupto, o Pai dos Bons Filhos, Exceto a Fraquejada”.

Ao lado dos companheiros Alexandre Frota e Joice Hasselmann, Moro também ajudou a pavimentar a trilha de Bolsonaro ao Planalto. Assim como eles, despiu-se de qualquer decência para alcançar um resultado político. Tornou-se um minúsculo superministro. Como eles, será agora atacado nas redes pela claque de robôs de Carlos Bolsonaro.

Achei o discurso de saída bonito. Embora ele sofra do mesmo mal que o presidente, ser um péssimo orador (desafina a cada três segundos, não consegue conjugar alguns verbos, perde a linha narrativa), o texto limpo foi bem pensado.

Foi uma redação feita para deixar claro seu rompimento com Bolsonaro – e principalmente se firmar como um possível candidato. Chamam Moro de marreco – acho injusto. Agora ele é um pequeno pavãozinho acenando a todos os partidos políticos, “olha, estou aqui, o capital político de Bolsonaro que se baseava em uma ideia de honestidade era eu, e agora estou sem partido”.

Foi uma metralhadora tão indistinta que sobrou até elogio ao PT, ao mencionar que pelo menos a Polícia Federal sob o comando de Dilma era livre para investigar até o próprio PT.

Acusou a Secretaria de Comunicação de ter mentido, expôs (sem muitos detalhes, mas com a ameaça de um dia contar tuuuudo) a relação abusiva que sofria com Bolsonaro, e repetiu várias vezes o ponto principal, o que ele quer que fique na memória do eleitorado desse varonil Brasil:

– Qual é a causa consistente para a troca do diretor geral da Polícia Federal?

Sou obrigado a me juntar ao companheiro Moro. Faço coro com ele nesta pergunta, um coro desafinado que não será ouvido por Bolsonaro, mas talvez seja ouvido por Maia, em contagem regressiva para se pronunciar sobre os pedidos de impeachment que pairam sobre a vazia cabeça do presidente.

Creio que esta é a história do início de sua derrocada. Era uma vez um presidente que se elegeu prometendo a cura gay e começou a cair por ser incompetente quando se trata de curar doenças de verdade. Se a História for justa, vai acabar sozinho, abandonado por todos os que o cercam, especialmente por seus filhos – exceto, talvez, pela Fraquejada.

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