Dia 16 – Brasil acima de muitos

Talvez eu tenha culpa no cartório da pandemia, já que não aderi ao jejum solicitado por Bolsonaro

Se a Covid se espalhar forte essa semana, talvez eu tenha culpa no cartório.

Nem saí de casa, mas não aderi ao jejum solicitado pelo Governo Federal à população no fim de semana. Mas fiquei feliz por ver que finalmente Bolsonaro tomou essa brilhante medida de saúde pública, não espero menos das autoridades.

Por outro lado, sei de gente que jejuou forte (mais forte que o presida, aliás, que pelo que fiquei sabendo tomou um cafezinho) e talvez o conjunto tenha ajudado. Mas quando decido pesquisar os números atualizados dos atingidos pelo vírus, vejo que o país faz jus ao slogan da eterna campanha presidencial.

Brasil acima de muitos, pelo menos em mortes pelo Corona. Acima de Venezuela e Cuba, por exemplo. Abaixo ainda dos Estados Unidos, sempre abaixo, muito abaixo, aliás, abaixo no nível Estados Unidos Limpam Suas Botas Em Um Capacho Escrito Brasil ao roubar os produtos brasileiros comprados da China para atender nossos doentes.

Em meio ao caos, recebo a notícia: Mandetta demitido. O único ministro que ainda guarda um mínimo de decência no combate à crise – e talvez justamente por isso. Bolsonaro não pode ousar ter um ministro eficiente, seria contraste demais com sua própria incapacidade. Como governa para uma claque que delira com suas frases feitas, memes e fake news, sabe que decência é crime – e o que se espera de um ministro bolsonarista clássico é aquela usual xenofobia ou uma úmida e servil língua a lamber botas militares.

Não que Mandetta seja assim, uma Brastemp. Mas vivemos em um período tão desesperador que estávamos aqui até torcendo pela permanência do cara que responde a inquérito por fraude em licitação, tráfico de influência e caixa 2, falava mal do Mais Médicos, planeja o desmonte do SUS e é financiado por grandes planos de saúde.

Esse é o nível. Esse é o cara que podia ser o salvador de milhares de vidas.

Minutos depois, nada disso. Mandetta está e ainda fica mais um pouco. A decisão que já havia sido confirmada pelo Palácio do Planalto agora é uma invenção de esquerdistas que buscam desmoralizar o governo. O método Bolsonaro a pleno vapor, a mentira usada como ferramenta de governo, a final obediência ao mercado. Uns memes aqui, uma frase racista ali, a claque delira, amanhã recomeça.

O dono da bola é um pavão que odeia os demais jogadores, odeia a bola, odeia o campo, odeia o jogo. Mas sobretudo odeia que a atenção do público se volte para qualquer outro pavão.

É o nível a que chegamos. Mas ainda não chegamos. Nesse poço sem fundo e sem qualquer dignidade que o país se tornou, a única esperança é que em algum ponto do planeta alguém esteja fazendo uma imensa, sonora e revolucionária balbúrdia. Desse ponto em diante só a balbúrdia poderá nos salvar.

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