Dia 10 – Verdade fast food

Procuro no google “como dialogar com gente que defende até o vírus para não mudar sua posição política” e mesmo ele não tem respostas

Aqui em casa, por enquanto, seguimos firmes na nossa decisão de não aderir à pandemia. Já não éramos os condôminos mais chegados dos vizinhos, agora ainda menos. Vizinho passa aí na frente, opa, de longe, falando baixinho. Nem sorrir pra não atrair. Pessoal anda carente – guarda a carência pra outra hora.

Começa a bater aquela saudade de fazer coisas comuns – ir ao parque, jogar futebol, marcar um churrasco, tomar corridão de ganso, fazer shows para milhões de pessoas, jogar um truco. Hoje é só TV e Internet. Os gatos, também carentes, andam mais felizes.

De repente aparece aquela notícia falsa: um borracheiro morreu com a explosão de um pneu e sua morte foi contabilizada como procedente de Covid-19, só para inflar os números da doença e atingir negativamente o governo Bolsonaro. Os perfis falsos de apoio ao governo repetem a mentira à exaustão e chegam aos mais incautos (na versão bondosa), que mansa e cegamente seguem idolatrando um presidente que é o principal problema sanitário do país.

Procuro no google “como dialogar com gente que defende até o vírus para não mudar sua posição política” e mesmo ele não tem respostas.

São tempos tão peculiares, estes. A verdade importa muito pouco, quando importa. Confunde-se o “eu não duvido que tal coisa poderia acontecer” com o “tal coisa aconteceu”. O bom senso não significa nada. Dados científicos não significam nada. Os milhares de mortos no mundo todo são apenas uma mentira mal contada da esquerda.

Orwell não faria melhor. Nunca estivemos em guerra com a Lestásia. Nossa guerra sempre foi e sempre será contra a Eurásia.

São tempos em que a verdade não tem o objetivo de ser verdade, mas de causar a mesma satisfação imediata que se compra em um restaurante fast food – e que da mesma forma será engolida, seja o lixo que for.

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