Você já ouviu falar em Music Fake Book?

 Já está se tornando uma tradição orquestras executarem ao vivo uma trilha sonora enquanto o filme é exibido para o público. Recentemente, uma montagem grandiosa de O Senhor dos Anéis esteve no Brasil, em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Outras devem vir num futuro próximo. Na semana passada, a Orquestra Sinfônica do Paraná também apresentou um espetáculo semelhante e tocou a trilha sonora do clássico Tempos Modernos, de Charlie Chaplin.

Esse formato, da orquestra junto com o filme, na verdade representa uma volta aos primórdios do cinema mudo, quando não havia trilha sonora nas películas. É importante salientar que o cinema foi “mudo”, ele nunca foi “não-sonoro”, o que é muito diferente. Portanto, a adição de som à película tornou o cinema falado, porque sonoro ele sempre foi.

Simbiose

A música é uma forma de arte temporal, que precisa ser apreciada aos poucos, conforme as passagens de tempo ocorrem. Ao ouvir uma música, o público é conectado ao pensamento do compositor e do intérprete, apreciando a obra a partir do recorte temporal proposto pelo artista.

Essa conexão entre autor, tempo e público faz com que a música dialogue muito bem com o cinema. No filme, a questão do tempo está relacionada ainda ao olhar que o diretor pretende dar a cada cena. Juntando a arte musical com a cinematográfica, percebemos que ambas são linguagens complementares. A música, quando utilizada em um filme, torna-se parte da narrativa.

A trilha sonora antes do 7.1

No início do século XX, diretores de salas de cinema contratavam músicos para tocar durante a exibição dos filmes e escolhiam o repertório que seria executado durante a projeção. A preocupação não era construir uma trilha sonora, mas sim promover uma espécie de distração que abafasse o barulho dos antigos projetores. Nas salas menores, apenas um pianista dava conta do recado. Já os cinemas mais bem estruturados chegavam a ter um número maior de músicos, não exatamente uma orquestra, algo mais próximo a um grupo de câmara.

Music Fake Book

Não demorou para que os produtores e donos de salas percebessem que era possível fazer um uso mais inteligente dos músicos contratados. Foi assim que surgiram os Music Fake Books, que nada mais eram do que livros com temas musicais escritos e organizados por assuntos, com humores diversos e adequados a praticamente todas as situações dramáticas.

Na prática funcionava assim: se no filme houvesse uma cena romântica de um casal ao luar, o maestro da orquestra poderia procurar um tema na seção de “músicas de amor”, por exemplo, e executá-lo durante a cena. Era a regência do maestro que determinava a duração do tema. Outra possibilidade: um duelo entre dois pistoleiros no Velho Oeste. Novamente o maestro procuraria um tema no Music Fake Book que fosse relacionado a valentia ou coragem e “voilà”, a trilha sonora estava garantida.

Oportunidade

Nem é preciso dizer que os livros se tornaram um grande sucesso, mas dependiam muito da perícia dos maestros e diretores de cada cinema. Isso fazia com que em algumas salas a coisa desse certo, mas em outras nem tanto.

É aí que entra na história um sujeito chamado Max Winkler, que era auxiliar de escritório da empresa Carl Fischer Music Store and Publishing Company, de Nova Iorque. Ele percebeu uma brecha que poderia ser tanto lucrativa quanto útil. Winkler começou a assistir aos filmes antes do seu lançamento para selecionar temas musicais, cujas partituras passaram a ser vendidas junto com os rolos do filme, assim as casas de cinema e seus maestros recebiam um livro de partituras com todos os temas necessários para o filme. Isso passou a garantir uma melhor qualidade na exibição e uma certa padronização das execuções, porque as partituras traziam também outras informações, como a duração de cada cena em relação ao trecho musical, ajudando assim a sincronizar a música com o filme. Era o embrião do timecode.      

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