Os Vingadores e Game of Thrones: duas sagas musicais

Daniel Derevecki fala das trilhas que conquistaram fãs pelo mundo e mostram a competência de dois compositores

O mês de abril tem sido intenso para os fãs da cultura pop. Primeiro, porque já está no ar a temporada final de Game of Thrones; segundo, porque na próxima quinta estreia o “Último Ato” dos Vingadores, em Ultimato. Mas o que há de comum entre essas duas grandes produções? Além de conquistarem fãs pelo mundo todo, mostram a competência do trabalho de dois compositores ao longo de quase uma década. Alan Silvestri, 69 anos, é o autor do tema musical dos Vingadores” e Ramin Djawadi, 44 anos, assina a trilha sonora da saga de Westeros. O filme de estreia dos super-heróis da Marvel foi lançado em 2012 e a temporada inaugural de GOT foi ao ar em 2011.

Vamos falar um pouco dos compositores. Silvestri está entre os grandes nesse assunto e certamente um dos seus trabalhos mais marcantes é De Volta para o Futuro (1985), que inclusive me obriga a fazer uma confissão: até hoje cantarolo esse tema quando preciso estabelecer um intervalo de quarta aumentada. Sua mente criativa também aparece em outros clássicos, como o Náufrago (2000), Forrest Gump (1994), Uma Cilada para Roger Rabbit (1988), O Predador (1987), além de muitos temas para tevê, sendo talvez o mais marcante o do Esquadrão Classe A, série dos anos 1980 que virou longa em 2010. Definitivamente suas composições fazem parte do nosso imaginário e ajudaram a modelar os ouvidos de várias gerações.

Alan Silvestri é o autor dos temas de De Volta para o Futuro, Forrest Gump e Uma Cilada para Roger Rabbit, entre outros.

Agora uma coisa precisa ser dita: muitas vezes a obra de Silvestri é confundida com a de John Williams, 87 anos, autor de outros temas inesquecíveis, como Star Wars, ET e o Hedwig’s Theme, que é o título do tema original de Harry Potter. Por quê? Eu acredito que em primeiro lugar por falta de atenção do público aos créditos iniciais e finais dos filmes. Mas em segundo lugar porque há muitas semelhanças no uso da orquestra, como a preferência por grandes sequências melódicas nas cordas, o uso grandioso dos metais, além dos encadeamentos harmônicos que conduzem, entre outros destinos, ao modo Lídio (proporcionando a quarta aumentada que eu falei acima).

As temáticas dos filmes também ajudam nisso. Em geral, os temas musicais de Silvestri e Williams são destinados a personagens ou grupos que indubitavelmente são mocinhos. O mesmo é difícil de se afirmar com os personagens de Game of Thrones, uma história cheia de reviravoltas e transformações. Há personagens que eram vilões nas primeiras temporadas e que atualmente ganham a torcida do público para sobreviverem. Jaime Lannister (Nikolaj Coster Waldau), por exemplo, chegou a jogar uma criança da janela e agora é um cavaleiro honrado; Tormund Giantsbane (Kristofer Hivju) passou de um selvagem sanguinolento para um cara engraçado; Sandor “Cão de Caça” Clegane (Rory McCann) foi de assassino sem escrúpulos a um sujeito preocupado com o bem comum.

Ramin Djawadi é o autor da trilha de Game of Thrones.

Djawadi estabelece essa atmosfera complexa logo no tema de abertura. Por meio de uma melodia construída sobre um compasso ternário, ele faz uma alternância intrigante entre a terça menor e a maior, produzindo uma constante mudança entre os modos Menor e Maior. Para quem não está acostumado a essa linguagem, em geral o Modo Menor é associado a coisas mais “tristes” e o Maior a coisas “alegres”. Essa é uma definição simplista demais, por assim dizer, mas serve para demonstrar esse balanço de humores presente na trilha. Nessa dicotomia entre maldosos e bondosos só estão bem definidos mesmo como herói e vilã as personagens Jon Snow (Kit Harington) e Cersei Lannister (Lena Headey). Aliás, essa última ganhou um tema musical à altura de sua maldade: “Light of the Seven”, do episódio final da sexta temporada, é algo impressionante e profundo, intimamente conectado à personagem e seu arco na história. Uma das mais belas obras musicais de Djawadi.

No mais é só escolher entre pipoca doce e salgada, conforme o humor, e curtir essas obras musicais brilhantes.

Para ir além

The Avengers

Game of Thrones

Back to the Future

Light of the Seven

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