Oportunidade para pensarmos na relação entre trilha sonora e o imaginário coletivo

Documentário sobre o primeiro filme da saga de Rocky Balboa exibirá imagens caseiras e de bastidores da produção que criou um dos ícones musicais mais conhecidos do mundo

Entrará no straeming no proximo dia 9 (pela Amazon, Itunes e Apple TV) um documentário especial sobre o primeiro filme da saga de Rocky Balboa nos cinemas. Escrito e produzido por Derek Wayne e narrado pelo próprio Silvester Stallone, o enfoque do trabalho, que exibirá imagens caseiras e de bastidores da produção do primeiro longa do boxeador, será proporcionar ao público um contato que revele o envolvimento psicológico do protagonista no processo de construção da personagem.

Música

Já faz mais de quatro décadas que o mundo subiu ao ringue pela primeira vez ao ao som de “Gonna Fly Now”, tema do filme Rocky: um lutador (1976). Partindo de uma progressão nos metais, naquela pegada de Big Band, o tema de Rocky é um clássico, para ser ouvido no repeat. O cérebro por detrás dessa obra é Bill Conti, compositor de envergadura, vencedor do Oscar de Melhor Trilha Sonora em 1984 (por seu trabalho em Os Eleitos) e autor de outras trilhas musicais marcantes, como a de Karetê Kid.

É interessante notarmos que a composição de Bill Conti para o filme Rocky transformou-se em um ícone para toda uma geração. A cultura pop ligada ao cinema, ao ganhar terreno pelo mundo, ajudou a fazer com que temas musicais como esse encontrassem lugar numa espécie de vocabulário musical coletivo.

Digo isso porque muita gente identifica as melodias dos temas de vários filmes e consegue assobiá-las, quase que na totalidade. O porquê disso acontecer sempre foi algo que me intrigou. Olhando para esse fenômeno ao longo da história, podemos perceber que muito do que se fez na música ocidental tem essa característica. Uma possível razão pode ser a força do sistema tonal. Quem nunca ouviu a 5.ª Sinfonia de Beethoven, por exemplo? Pode ser que de nome você não se lembre, mas se eu simplesmente escrever “pam, pam, pam pammmm…” a ficha cairá facilmente, porque é um tema que faz parte do nosso vocabulário musical.

Transpondo essa ideia ao cinema, evidencia-se que os compositores apropriaram-se desse conceito e começaram a compor temas que entraram nesse vocabulário musical coletivo, formando opiniões e influenciando no gosto e na audição das pessoas. Aqui pode estar uma referência conceitual que baseie a indústria cultural aplicada à trilha sonora, ou seja: compor em série e com método. Não à toa, mais de quarenta anos depois do seu lançamento, o tema de Rocky ainda ecoa em nosso imaginário e o filme atrai a atenção, ao ponto de ser lançado um documentário sobre seus bastidores.

Independentemente do debate se o filme é bom ou não para merecer um documentário, creio que compense ouvirmos novamente o tema musical. Quem sabe, após a pandemia, eu, que estou praticando o sedentarismo, visto um conjunto de moletom cinza com um gorro preto, bebo seis ovos quebrados numa caneca, arrisco uma corrida e subo uma escadaria ouvindo “Gonna Fly Now”.

Trailer do documentário

“Gonna Fly Now”, tema de Rocky

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