Esqueça o The Voice, mergulhe no Voices os Fire

Reality da Netflix traz à luz os bastidores de um Gospel Choir

Uma série original da Netflix despertou o meu interesse durante as férias de janeiro. Não se trata exatamente de um lançamento, porque os episódios foram disponibilizados em novembro do ano passado, mas certamente vale a pena gastar algumas linhas para falar de Voices of Fire. Tirando o apelo comercial, exagerado e egocêntrico, de se anunciar a criação do que seria o melhor coro gospel do mundo, produzido por Pharrell Williams, a série é bastante comovente e divertida.

Em formato de reality show, conta a história do religioso Ezekiel Williams, tio de Pharrell, reverendo de uma comunidade que deseja inovar no serviço musical de sua igreja, criando um coro multicultural e diferenciado. Por meio de uma campanha na internet, seu projeto recebeu mais de 3 mil inscritos, dos quais 300 foram selecionados para audições ao vivo, por meio das quais escolheram-se os 75 integrantes do coro.

Os seis episódios da série giram em torno da seleção dos cantores e de seus dramas pessoais, além do processo de ensaio e da criação de um show de inauguração. O astro Pharrell dá seu ar da graça numa das audições e também no show, mas quem brilha mesmo são os coristas. Para quem está acostumado às atividades musicais em igrejas protestantes, vai ser uma oportunidade de ouvir alguns hinos conhecidos da tradição cristã, numa roupagem bem exclusiva, algo que também será interessante para quem não costuma ouvir a música gospel, mas que tem curiosidade sobre esse universo.

Que música é essa?

Pois bem, é importante que se diga que o gospel norte-americano é diferente do gospel brasileiro. O jeito de cantar, a forma com que os arranjos são escritos, a presença de palco dos cantores, a pegada dos músicos nos instrumentos, tudo isso é diferente. Sendo assim, não se pode comparar o coro de Voices Of Fire com quase nada do que se ouve aqui no Brasil. Não estou dizendo que a música gospel brasileira seja ruim, ou que não tenhamos bons grupos vocais, somente que é diferente. É necessário também ter em vista que o Brasil é um país de tradição católica, enquanto os EUA são protestantes. Além disso, o coro formado para a série tem como base uma região no estado da Virgínia que é muito rica em talentos musicais, o próprio Pharrell é natural de lá, assim como Ella Fitzgerald também era. Fica evidente que a comunidade afro-americana, que vai predominar no coral, carrega esse DNA musical privilegiado.

Coro ou coral?

Essa é uma dúvida comum. “Coro” é um substantivo, “coral” é um adjetivo, ou seja, o nome do grupo é “coro”, mas o repertório que esse grupo canta é que se chama “repertório coral”. Porém, devido à diacronia envolvida no uso da nossa língua portuguesa, o adjetivo passou a ocupar a lugar do substantivo, logo, podemos chamar o “coro” de “coral”. Confuso, não é? Então espere, porque vai ficar um pouco mais complicado ainda. Pela tradição de escrita coral, normalmente os arranjos são feitos para quatro naipes vocais: os femininos (soprano e contralto) e os masculinos (tenor e baixo). Nos corais gospel a escrita é um pouco diferente, em geral apenas para três naipes (soprano, contralto e tenor). Neste caso, os homens de voz mais grave acabam ficando fora do coral ou tendo que cantar notas bem agudas, muitas vezes além da sua tessitura. Pode parecer um problema, e de fato é, porém, se bem coordenado, acaba gerando resultados muito interessantes. Assista à série que você vai perceber como eles resolveram essa questão por lá.

Para ir além

Trailer oficial de Voices of Fire:

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