Era Uma Vez em Hollywood: uma trilha sonora de várias camadas

A playlist do filme é um presente para quem aprecia o rock da década de 1960

Gosto de pensar numa trilha sonora analisando-a em camadas e separando os temas em duas dimensões, uma ligada aos personagens e outra à linha temporal, às quais identifico como “Vertical” e “Horizontal”. Ressalto que isso não faz parte da literatura relacionada ao assunto, trata-se da minha maneira de organizar o raciocínio, com vistas à fruição da obra musical e cinematográfica. Desta forma, posso ouvir a trilha com um tipo de “ouvido pensante” (esse termo, sim, existe na literatura).

O novo filme do diretor Quentin Tarantino, “Era Uma Vez em Hollywood”, com estreia marcada para esta semana, é um ótimo exemplo dessas dimensões e camadas que mencionei. Assisti ao longa numa sessão especial para imprensa e vou apresentar as minhas impressões sobre a trilha sonora.

Seleção de canções

A playlist do filme é um presente para quem aprecia o rock da década de 1960. Canções como Straight Shooter (The Mamas & The Papas), Good Thing (Paul Revere & The Raiders) e Mrs. Robinson (Simon & Garfunkel) são algumas delas. O filme todo, em sua ambientação, acerta em cheio ao criar a atmosfera de uma década na qual a América debatia o Vietnã e vivia as tensões entre o conservadorismo e os movimentos de contracultura. Situado pouco tempo antes do Woodstock, o longa oferece, através das músicas escolhidas, uma assinatura sonora desse período efervescente.

Referências

Diversas citações à indústria cultural da década de 1960 são vistas no filme. Na área musical, a capa do disco The Spirit of ’67, de Paul Revere & The Raiders, é uma delas. Também não poderia faltar uma imagem que tivesse o icônico edifício da gravadora Capitol Records no enquadramento. Até certo ponto, o filme parece um episódio da série documental do Smithsonian Channel, que procura recriar a história dos Estados Unidos, década a década, com imagens coloridas digitalmente.

Camadas da trilha sonora

A trama conta a história de um astro de TV, Rick Dalton (Leonardo DiCaprio) e seu dublê, Cliiff Booth (Brad Pitt). Em decadência, após o fim de um seriado de faroeste que estrelava, Dalton está à cata de papéis de vilão em outras séries. Em alguns momentos, mostram-se “filmes” nos quais atuara. Na intenção de situar os ouvidos do público, a mixagem é alterada para um novo padrão. O resultado obtido diferencia as trilhas sonoras e coloca as coisas em camadas específicas.

Numa dessas existe uma convergência entre as camadas. Dalton está em crise, sem conseguir ao menos lembrar das frases que tem que dizer durante uma cena. Depois de um tempo sozinho no trailer, volta para o set decidido a acertar. Enquanto caminha, toca um tema instrumental de faroeste que serve tanto para o suposto episódio do seriado quanto para o filme propriamente dito. Esse tipo de convergência ocorre, naturalmente, em outros momentos do longa, trazendo leveza e dinamismo à trilha sonora.

Nas cenas protagonizadas pelo dublê Booth esse recurso fica de lado, denotando o caráter de bastidor de sua atuação. Mesmo aparecendo em tela, é como se ele não estivesse lá.

Sobre o filme

Bom, é Tarantino: logo…

Para ir além

Trilha sonora completa de “Era Uma Vez em Hollywood”

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