De Freddie Mercury a Lady Gaga: um Oscar dos filmes musicais

Daniel Derevecki estreia a coluna Popcorn Music falando da relação entre música e os indicados ao Oscar

Cinéfilos do mundo todo aguardam pelo anúncio dos vencedores do Oscar 2019. A cerimônia de entrega ocorrerá no próximo domingo à noite, em Los Angeles, com coberturas especiais na tevê por assinatura. A edição deste ano deve proporcionar um encantamento maior a quem gosta de música, porque dois dos indicados à estatueta de “Melhor Filme” são obras de temática musical: Bohemian Rhapsody (com a banda Queen e seu líder, Freddie Mercury, como o centro das atenções) e Nasce Uma Estrela (que alçou Bradley Cooper ao posto de diretor e revelou ao mundo uma Lady Gaga tão boa atriz quanto cantora).

Não vou me arriscar a escrever críticas sobre os filmes, deixo essa missão para os especialistas, mas vou falar daquilo que está na minha área de estudos, a música. Bohemian Rhapsody conquistou meus ouvidos logo nos créditos iniciais. A vinheta da 20th Century Fox tocada na guitarra com distorção mistura bom gosto e ousadia. Depois vem uma playlist recheada de boa música, afinal de contas é o Queen. Tudo isso prepara o espectador para o ápice do filme, que é a recriação do lendário show “Live Aid”, realizado em 13 de julho de 1985 no estádio de Wembley.

Performance

Desde que o filme estreou as críticas tiveram como alvo a atuação de Rami Malek no papel de Mercury e as incongruências do roteiro em relação aos fatos. Confesso que isso pouco me interessou. O que realmente chamou a minha atenção foi o cuidado presente na obra como um todo ao retratar o “modo de fazer” rock nas décadas de 1970 e 80. É perceptível que houve um processo de produção criterioso no tocante à ambientação, que vai do uso dos equipamentos da época aos estúdios com aquela cara vintage, coroados por performances muito realistas dos atores que interpretaram os músicos da banda

O britânico Gwilym Lee (35), que vive o guitarrista e astrofísico (isso mesmo, você não leu errado) Brian May, roubou a cena. Sua guitarra tem muito realismo, principalmente nas tomadas de palco e estúdio. O americano Joseph Mazzello (35), na pele do baixista Jhon Deacon, e Ben Hardy (27), que faz o baterista Roger Taylor, também não deixam a desejar e fecham bem a “cozinha”, como se chama no jargão das bandas o conjunto “baixo e bateria”. Essa qualidade irrefutável é fruto de um trabalho de consultoria feito por músicos profissionais. Nos créditos finais aparece a informação com os nomes dos coaches de voz, piano, baixo, guitarra e bateria.

Os processos de produção dos discos em estúdio e os caminhos, por vezes questionáveis, da indústria cultural ligada ao mercado fonográfico também aparecem. Ao mesmo tempo o filme consegue divertir e ensinar sobre produção musical.

Lady Gaga

Com relação a “Nasce Uma Estrela”, não será surpresa alguma caso apareça no envelope de “Melhor Canção Original”, algo que já ocorreu em janeiro, no Golden Globe. “Shallow”, interpretada por Gaga e Cooper, é uma daquelas músicas compostas para conquistar. A batida folk do violão dá personalidade à primeira parte, cantada por ele e marcada por um tipo de pragmatismo masculino. Na segunda estrofe, quando ela assume o vocal solo, começam a surgir os outros instrumentos da banda, abrindo espaços para novas cores no acompanhamento. Esse contraste é definido no momento do dueto, quando a música alcança o clímax e o instrumental chega de vez.

O final da canção é também um deleite para os ouvidos mais atentos. A última sequência de acordes conduz a uma cadência de engano que deixa a música em um lugar de incerteza, como se o ouvinte fosse convidado a compor o final. Golaço!

No mais é só estourar a pipoca, subir o som e curtir.

Confira quais filmes concorrem às categorias musicais do Oscar 2019

Indicados de melhor canção original
Pantera Negra – “All The Stars” (Sounwave, Kendrick Lamar, Anthony Tiffith e SZA)
RBG – “I’ll Fight”, Diane Warren
Nasce Uma Estrela – “Shallow” (Lady Gaga, Kark Ronson, Anthony Rossomando e Andrew Wyatt)
O Retorno de Mary Poppins – “The Place Where Lost Things Go” (Marc Shaiman e Scott Wittman)
A Balada de Buster Scruggs – “When A Cowboy Trades His Spurs For Wings” (David Rawlings e Gillian Welch)

Indicados Melhor Trilha Sonora
Ilha de Cachorros (Alexandre Desplat)
Infiltrado na Klan (Terence Blanchard)
O Retorno de Mary Poppins (Marc Shaiman)
Pantera Negra (Ludwig Góransson)
Se a Rua Beale Falasse (Nicholas Britell)

Filmes com temática musical indicados a melhor filme
Bohemian Rhapsody
Nasce Uma Estrela

Sobre o/a autor/a

Compartilhe:

Leia também

O (des)encontro com Têmis

Têmis gostaria de ir ao encontro de Maria, uma jovem vítima de violência doméstica, mas o Brasil foi o grande responsável pelo desencontro

Leia mais »

Melhor jornal de Curitiba

Assine e apoie

Assinantes recebem nossa newsletter exclusiva

Rolar para cima