Uma verdadeira corrida contra o tempo

A culpa da falta de vacina é única e exclusivamente do governo

No dia 8 de dezembro de 2020 minha filha completou seu primeiro ano de vida e o mundo recebeu um presente especial: uma senhora de 90 anos do Reino Unido foi vacinada contra a Covid-19. Foi a primeira. Enquanto isso, aqui no Brasil, com 2 meses de atraso, a primeira dose só foi aplicada em 17 de janeiro de 2021!

Essa pandemia que o mundo vive há mais de 1 ano, nos trouxe muitos pontos para reflexão: escancarou a pobreza em que muitas famílias vivem; a participação das mulheres no mercado de trabalho brasileiro retrocedeu a patamares de 30 anos atrás; o abismo educacional entre crianças da rede pública e privada aumenta a cada dia; fome, desemprego, além das mais de 400 mil vidas perdidas, são uma parte do estrago que essa doença nos causou. Por outro lado, vimos cientistas do mundo inteiro se debruçando em busca de tratamentos e vacinas que possam nos levar de volta à vida normal, reduzindo o potencial danoso do vírus. Uma verdadeira corrida contra o tempo, que se mostrou vitoriosa!

5 meses se passaram desde que a primeira dose de vacina foi aplicada. Recentemente os Estados Unidos anunciaram que todos os cidadãos americanos com mais de 12 anos poderão ser vacinados nos próximos dias. TODOS os cidadãos americanos. Um tapa na cara dos brasileiros que brigam, dentro de uma lista de prioridades, para definir quem é mais prioritário! Começamos vacinando profissionais de saúde, depois idosos. Em Curitiba, vacinamos todos os idosos até 60 anos, passando então à fase das pessoas com comorbidades, sabidamente um grupo fortemente afetado pela doença. É nessa fase que nos encontramos hoje, maio/2021. A falta de vacina por aqui faz pipocar sugestões para que sejam incluídos nos grupos prioritários os trabalhadores dos mais diversos setores da sociedade. Cada um “puxando a brasa para sua sardinha”.

Poderíamos pensar: “Que infelicidade o destino reservou aos brasileiros: se morássemos nos Estados Unidos estaríamos todos vacinados e não precisaríamos fazer um ranking de prioridades entre nossos cidadãos!” Se esse pensamento já passou pela sua cabeça, me permita divergir… isso não é uma infelicidade! Não foi o destino que nos colocou nessa situação… a culpa da falta de vacina é única e exclusivamente do governo! Aquele a quem frequentemente nós, como sociedade, solicitamos tutela.

A verdade é que nosso governo recusou, em 11 ocasiões diferentes, a compra de vacinas. Outros países do mundo fecharam negócio com os laboratórios, mesmo antes da confirmação de sucesso dos estudos, para garantir que seus cidadãos fossem imunizados o mais rápido possível. Por aqui nossas prioridades foram outras, que não discutirei nesse artigo, mas que estão nos custando meses de atraso no acesso às vacinas e incontáveis vidas perdidas nesse meio tempo.

Podemos usar essa realidade para traçar um paralelo desse caso das vacinas no Brasil e no mundo, com a realidade da educação brasileira. Em nosso país o acesso à educação é um dever do Estado e um direito de todas as crianças! Dados do censo escolar de 2020 mostram que a esmagadora maioria dos nossos alunos depende da rede pública de ensino, sendo esta, em sua maioria, a única opção para muitas famílias. Apenas 18,6% dos alunos da educação básica estão matriculados na rede privada de ensino. Ao ofertar na rede pública um ensino de péssima qualidade, como podemos constatar ao analisar os resultados de testes internacionais como o PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), por exemplo, acabamos por fazer com que o futuro de nossas crianças fique comprometido. Elas se tornam reféns de um Estado que é incapaz de prover o básico para que as oportunidades sejam as mesmas, independentemente do poder aquisitivo da família. Ou seja, as famílias de baixa renda no Brasil vivem há décadas a mesma realidade que todos os brasileiros vivem hoje em relação às vacinas. Ambos os casos são resultado do descaso e da incompetência do poder público.

Já passou de hora de revisarmos nossas prioridades. Devemos focar imediatamente todos os nossos esforços para que nossas crianças tenham uma educação de qualidade, que lhes garantam um futuro promissor e cheio de oportunidades! Além, é claro, de priorizar a busca pela vacina para que nossos cidadãos sejam, finalmente, imunizados.


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