Um país atrasado no combate ao racismo e à pobreza

Educação de qualidade é o caminho mais certeiro para a melhora na qualidade de vida das pessoas

Tramita na Câmara Municipal de Curitiba um projeto de autoria da vereadora Carol Dartora (PT) que visa instituir cotas nos concursos públicos municipais para a população indígena e para a população negra, que segundo critério estabelecido pelo IBGE é composta por pretos e pardos.

A vereadora Carol Dartora foi a primeira mulher negra eleita para a Câmara Municipal de Curitiba e tem uma luta legítima que busca, entre outras pautas do movimento negro, combater o racismo. Entendendo a importância do debate envolvendo o racismo e, assim que o projeto foi protocolado na Casa, fiz questão de me aprofundar no tema, buscando entender os motivos que levam negros e indígenas a serem sub-representados na administração pública.

Como relatora do projeto na Comissão de Educação, minha primeira ação foi pedir à prefeitura os dados relacionados à composição de raça dos funcionários públicos municipais. Segundo a administração municipal, pouco mais de 17% são negros e indígenas, número muito próximo do valor estimado pelo IBGE para negros e indígenas em Curitiba no ano de 2020, que chega a quase 20%.

Ao discutirmos esses números na Comissão de Educação, a vereadora Carol trouxe um ponto de vista importante: os negros e indígenas que estão na administração pública municipal, embora representem praticamente a proporção da população negra curitibana, estão alocados em cargos de menor remuneração, o que, segundo a vereadora, justificaria o projeto de reserva de vagas para todos os cargos nos concursos públicos municipais.

Se o ponto de vista da vereadora Carol está correto, é certo também afirmar que o que impede a população negra e indígena de acessar as vagas de melhor remuneração num concurso público não é a condição racial em si, mas a falta de oportunidade causada pela falta de acesso à educação de qualidade.

Resultados em testes que avaliam a qualidade da educação no mundo, como o PISA, por exemplo, deixam claro que a educação pública do Brasil deixa muito a desejar. Enquanto o resultado isolado das escolas particulares do país nos leva às primeiras posições no ranking, quando analisamos os dados referentes apenas às escolas públicas, o resultado é catastrófico! Ficamos entre os últimos colocados, perdendo para todos os países da América Latina.

Olhar para esses resultados e achar que nossos alunos da rede pública enfrentam condições de igualdade de oportunidades ao longo de sua vida é certamente equivocado. Não à toa, famílias que têm condições acabam buscando na rede privada um refúgio para que seus filhos acessem uma melhor educação. Sendo assim, a maior parte da rede pública de ensino acaba atendendo famílias de baixa renda, que ficam reféns de uma educação de baixa qualidade, dificultando sua ascensão social e a quebra do ciclo da pobreza.

Acredito que todo cidadão deveria ter acesso à educação de qualidade, pois é o caminho mais certeiro para a melhora na qualidade de vida das pessoas. Pensando nisso sugerimos, em nosso relatório na Comissão de Educação, que o critério da reserva de vagas fosse modificado para o critério social, beneficiando as pessoas de baixa renda e provenientes do sistema público de educação que, independentemente da raça, são prejudicadas pela falta de oportunidades que dificultam o acesso à educação de qualidade.

Estamos muito atrasados no combate ao racismo e no combate à pobreza. Há muito deveríamos ter condições dignas e educação de qualidade para todos os brasileiros. Se o Brasil, ao longo de sua história, priorizasse ofertar para nossas crianças uma escola de qualidade, hoje não estaríamos discutindo este assunto.

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