Um olhar especial

Como ser mãe de uma criança autista mudou minha visão da sociedade e me trouxe até a Câmara de Vereadores de Curitiba

O primeiro passo da minha caminhada até a Câmara de Vereadores foi dado há quase uma década. Sem perceber. Jamais imaginaria que um momento inicialmente tão assustador me traria até aqui. O impacto do diagnóstico de autismo do meu caçula Bernardo foi o impulso para transformar meu olhar sobre as pessoas.

Começou com a preocupação com outras crianças com o Transtorno do Espectro Autista (TEA), depois me colocando no lugar de mães na busca pelo melhor atendimento aos seus filhos e aos poucos conhecendo realidades com tantas demandas distintas.

Conseguimos apoio de médicos para atender mais de 500 famílias do Paraná. Lutei, junto com o meu marido Fernando Francischini, pela lei aprovada por unanimidade na Câmara Federal garantindo o diagnóstico precoce do autismo no Brasil – capaz de transformar o desenvolvimento de uma criança. Colecionamos vitórias pessoais e sociais.

Todo esse envolvimento me fez criar o Instituto Fazer o Bem Sem Olhar a Quem. E aí não tinha mais como não olhar para os mais carentes, para os líderes comunitários que lutam com tão pouco, para crianças sem assistência, para as famílias sem comida!

Assim, resolvi encarar esse compromisso. Agora público.

Trouxe para a Câmara o olhar da minha jornada como mãe de uma criança especial, como cidadã, como mulher.

Se há um lugar onde podemos fazer mais é aqui.

É para elas que está o grande foco do nosso papel de transformar vidas com iniciativas que promovam igualdade. Pois são as mulheres, em quase que a totalidade dos lares, as responsáveis pela atenção e tratamento das pessoas com necessidades especiais. São elas, ricas ou pobres, que enfrentam as dificuldades diárias da incompreensão, da negação, do preconceito e da ausência de inclusão.

Dificuldades essas que se agravaram com a pandemia, principalmente nos lares mais humildes onde existe a total dependência de políticas públicas e de tratamentos bancados pelos governos, sendo que muitos foram suspensos desde o último ano.

Medicação, acompanhamento médico e psicológico ficaram de lado quando faltou o básico a tantos curitibanos que perderam seus empregos. Houve o agravamento na condição física e mental de várias síndromes.

O enfrentamento da crise do coronavírus trouxe outro alerta para as pessoas com necessidades especiais. Os autistas, por exemplos, tornaram-se muito suscetíveis à Covid. Peculiaridades do quadro clínico muitas vezes dificultam a utilização de máscaras e de cumprir medidas de distanciamento e proteção.

Os vereadores reconheceram essa dificuldade e acolheram esta semana nossa solicitação para a inclusão dos autistas no grupo prioritário de vacinação contra a Covid – atendendo centenas de famílias em Curitiba.

É o começo da nossa trajetória na Câmara, olhando com atenção para aqueles que mais precisam.

Cuidar das pessoas será a minha prioridade sempre. Não de forma panfletária, mas de modo efetivo, com a sensibilidade e o respeito que elas precisam para serem ouvidas e atendidas em suas necessidades e direitos.


A coluna PoliticAS reúne semanalmente, em formato de rodízio, textos das vereadoras eleitas de Curitiba.

Sobre o/a autor/a

Compartilhe:

Leia também

Melhor jornal de Curitiba

Assine e apoie

Assinantes recebem nossa newsletter exclusiva

Rolar para cima