Um alerta pela vida das nossas crianças

Pensando em ajudar nessa batalha dos policiais e no desespero das famílias que enfrentam o desaparecimento de um jovem e uma criança, vejo a importância de encorpar os alertas quando um novo caso acontece

A recente série de TV sobre o Caso Evandro resgatou um emblemático crime que chocou o Paraná e o país. O desaparecimento e morte do menino em Guaratuba, em 1992, foram seguidos por uma conturbada investigação, estigmatizou como bruxas as Abagge (mãe e filha), ganhou contornos macabros pelo que seria um ritual de magia negra e culminou no maior julgamento da história do Paraná.

Era uma época marcada pelo desaparecimento de crianças no estado. Um deles completou três décadas na semana passada. Guilherme Tibúrcio sumiu enquanto andava de bicicleta no Jardim Social, em Curitiba, quando tinha 8 anos.

Ele é um dos 27 casos ainda não resolvidos pela Polícia Civil do Paraná desde 1982. Todos continuam sendo investigados e denúncias recebidas são apuradas pelos policiais. Mas seguem sem resposta, deixando vazio e angústia permanentes nas famílias.

Ocorrências assim são mais comuns do que se imagina.  A cada dois dias uma criança desaparece no Paraná. Em 2020, foram 169.

Em 2018, foram registrados 237 casos – 24 em Curitiba, 44 na região metropolitana de Curitiba e 169 em outros municípios paranaenses. Em 2019, foram comunicados 224. Houve 34 em Curitiba, 40 na RMC e 150 casos no interior.

Felizmente, todos esses casos recentes foram elucidados. A maioria com a valiosa contribuição do Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas (Sicride), criado há 25 anos.

Pensando em ajudar nessa batalha dos policiais e no desespero das famílias que enfrentam o desaparecimento de um jovem e uma criança, vejo a importância de encorpar os alertas quando um novo caso acontece.

Hoje se uma criança some, as informações pouco circulam nos meios de comunicação ou na sociedade. No máximo são vistas nas redes de amigos do Facebook, Instagram e WhatsApp e mesmo essas redes sociais sendo muito usadas no nosso cotidiano, não são suficientes. Contribuem, claro, mas precisamos mais. Precisamos de ferramentas oficiais de divulgação.

Por isso, eu propus um projeto na Câmara de Vereadores nos mesmos moldes do que é feito nos Estados Unidos: o Alerta Amber (America’s Missing: Broadcast Emergency Response) ou Transmissão de Emergência para Americanos Desaparecidos. Ele foi criado após o desaparecimento da menina Amber Hagerman, de 9 anos, raptada e assassinada em Arlington, Texas, em 1996.

O projeto cria na capital o Alerta para Resgate de Pessoas – ARP. A ideia é integrar todos os órgãos municipais, ampliando os canais de divulgação já existentes, agregando novos mecanismos de multiplicação da informação – fazendo a notícia chegar a mais pessoas rapidamente.

Assim, quando um desaparecimento for registrado, a informação será amplamente divulgada através de e-mail, mensagens de celular, como acontece com os alertas da Defesa Civil, por exemplo.

O ARP será emitido por disparo simultâneo por cada órgão, inclusive de portos, aeroportos e terminais rodoviários, comandos das polícias, praças de pedágios, guardas municipais, prefeituras e câmaras municipais da região metropolitana de Curitiba.

Uma rede de informações intensa e maciça, pois a agilidade pode ser o segredo entre encontrar e salvar uma criança e a ocorrência de um crime mais grave.


Para ir além

Alfabetização de crianças durante a pandemia é um dos grandes desafios da educação

Sobre o/a autor/a

Compartilhe:

Leia também

Mentiras sinceras me interessam

Às vezes a mentira, ao menos, demonstra algum nível de constrangimento, algum nível de percepção de erro. Mas quando a verdade cruel é dita sem rodeios, o verniz civilizatório se perde

Leia mais »

Melhor jornal de Curitiba

Assine e apoie

Assinantes recebem nossa newsletter exclusiva

Rolar para cima