Ressurreição pós-pandemia

A pandemia trouxe muitas sequelas além da falta de ar e pulmões comprometidos. Em um ano houve uma avalanche de falências, negócios fechados e demissões. Mas também redescobrimos a solidariedade

Em 2020, a Paixão de Cristo foi o primeiro feriado sob a nova era decretada pela pandemia. Pessoas isoladas, restrições e o gosto de peixe e chocolates misturado com o medo de um vírus que começava a assombrar o mundo. Naquele domingo de Ressureição, em 12 de abril, eram seis as famílias em Curitiba que passariam a primeira Páscoa chorando a perda de um ente querido vítima da Covid.

Ninguém imaginou que estaríamos assim na Páscoa de 2021. Nem os mais pessimistas. Um ano depois, a capital paranaense lamenta a morte de 3.780* e assiste impotente à explosão de casos, hospitais lotados, profissionais de saúde exaustos e ainda mais restrições.

A pandemia trouxe muitas sequelas além da falta de ar e pulmões comprometidos. Em um ano houve uma avalanche de falências, negócios fechados e demissões. Mulheres ficaram em casa confinadas com seus agressores fazendo saltar os casos de violência. No Paraná, foram registrados 217 inquéritos de feminicídio no ano passado, alta de 3,8% em relação a 2019.

Um dado estarrecedor da semana passada mostrou que a violência doméstica também atingiu adolescentes, crianças e, especialmente bebês, com 220 casos. De 1.° de janeiro a 23 de março deste ano, 2.977 crianças e adolescentes foram vítimas de algum tipo de violência.

Mas nós também chegamos nesta Páscoa mais fortes. Lembro que bem lá no começo na pandemia, havia a ameaça de falta máscara para médicos e enfermeiros. Foi quando vimos um boom de costureiras, muitas mulheres simples que começaram a criar com as próprias mãos a proteção de pano que virou item obrigatório – e que ainda será por muito tempo.

Quantos empreendedores precisaram se reinventar? E conseguiram! Uma pesquisa do Sebrae realizada em 2020, mostrou que 66% das empresas que participaram do estudo mudaram a dinâmica de vendas e outras 46% passaram a utilizar as ferramentas digitais para manter o volume de negócios durante a pandemia.

Também vimos a generosidade contagiar. Solidariedade com aqueles que ficaram sem renda. Da panificadora que doava pães, passando pela entrega de cestas básicas por pessoas anônimas e entidades, doações milionárias de grandes empresas, até chegar ao Legislativo estadual e municipal, que correram para aprovar leis que amenizassem a crise. Na Assembleia, meu esposo, o deputado Delegado Francischini propôs uma das medidas mais importantes: a proibição do corte de água, luz e gás durante a pandemia. A ajuda veio de todos os lados.

Mães tiveram de se desdobrar com as crianças em casa, aulas virtuais, trabalho remoto junto com as tarefas domésticas. Acho que nunca trabalhamos tantos.

Ficamos sem muitos abraços, mas não perdemos o contato mesmo que fosse pelo celular ou computador. Quem aí conhecia o tal do Zoom antes da pandemia? Hoje é um importante aliado na nova forma de comunicar e se relacionar.

É, chegamos muito diferente nesta Páscoa. Muitas vezes com o coração triste, mas com fé.

E nada traz mais a sensação de ressureição nesta data tão especial para os cristãos do que a vacina. Mais e mais lotes chegam para dar mais esperanças aos paranaenses e curitibanos.

Quantos avôs e avós estão sendo imunizados e contando os dias para abraçar seus netos? Quantos profissionais de saúde encaram com mais confiança o ofício tão nobre e difícil? Logo representantes da educação e segurança pública receberão a tão esperada dose.

Aqui em Curitiba, pedi na Câmara de Vereadores a inclusão dos agentes da Guarda Municipal no grupo prioritário, devido ao alto risco de exposição inerente à atividade que desempenham.

Assim, mesmo que marcados por uma crise sanitária econômica mundial sem precedentes, temos motivos para acreditar em dias melhores.

(*) Número de óbitos em 29 de março de 2021.


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