Querem nos calar, mas nós combinamos de resistir

Não vamos permitir que a violência contra as mulheres seja perpetuada e naturalizada

Desde o momento em que nascemos, nós mulheres somos expostas a uma pressão social muito grande motivada por conceitos, ideias e valores que são impostos e atribuídos ao nosso gênero. É uma infinidade de “não pode” para a nossa liberdade e autonomia e inúmeros “sim” para uma condição de inferioridade. Estamos falando de microviolências diárias, inclusive nos espaços políticos.

Em Curitiba, não é diferente. Apesar de, na última eleição, a candidata mais votada ter sido uma mulher e de que pela primeira vez na história da nossa cidade uma mulher negra foi eleita e a terceira mais votada, o cotidiano desse espaço político segue reproduzindo ideias do machismo e do patriarcado. Mesmo sendo maioria do eleitorado e da população, nossa presença na Câmara Municipal ainda é de apenas 21%.

É por isso que quando falamos de políticas para mulheres, denunciamos que o sistema social como um todo é, na maior parte das vezes, segregatório, porque não contempla o retrato da quantidade de pessoas negras, das mulheres e das populações historicamente oprimidas no nosso país. Pelo contrário, utiliza-se das microviolências para perpetuação desse modo que tenta nos impedir de ocupar nossos espaços de direito.

Essa violência política não se limita ao exercício dos mandatos. Fora deles também sofremos agressões e ameaças. Somos chamadas de histéricas, loucas e até criminalizadas. Mas nem sempre essas agressões ocorrem de forma tão explícita. Na maioria dos casos acontece de forma tão sutil que tenta até inverter a lógica entre quem é a vítima e o malfeitor.

Mesmo antes de ter sido eleita vereadora desta cidade, durante a campanha e depois da posse, não me faltaram nem me faltam situações dessa violência política de gênero. Já fui ameaçada de morte por ser mulher e negra, já tive minhas propostas e ideias, dos segmentos que represento, julgadas como irrelevantes para a sociedade, já fui criminalizada por denunciar o racismo estrutural.

Por outro lado, a nossa reação a essas tentativas constantes de nos silenciar, de nos calar, têm produzido efeito contrário ao propósito original desses ataques, encorajando mulheres e até homens conscientes a se somarem na luta por uma sociedade justa e igualitária.

A violência política é um traço de todas as violências que nós mulheres já sofremos diariamente na sociedade. Não vamos permitir que ela seja perpetuada e naturalizada em nenhum espaço, inclusive naqueles que têm o dever de efetivar a democracia.

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