Muito papo e pouco nível: um retrato da política no Paraná

Mais da metade da população paranaense é composta por mulheres, mas só 5 delas conseguiram chegar na Alep

Quarta-feira, 6 de abril de 2022, Assembleia Legislativa do Paraná. Por ampla maioria e sem dificuldades, os deputados aprovam projeto de lei que derruba a comprovação da vacina contra a covid-19 em todo o Paraná. Dizem sim para aumentar o risco da transmissão do vírus.

Segunda-feira, 25 de abril de 2022, Assembleia Legislativa. O deputado estadual Ricardo Arruda (União) afirma em plenário, sem constrangimento, que a ditadura não existiu e que “os únicos torturados mereceram”. 

Terça-feira, 26 de abril de 2022, Assembleia Legislativa. O deputado Homero Marchese (Republicanos), em debate sobre a ampliação da participação feminina na Alep, questiona a necessidade da criação de uma bancada feminina na casa, alegando que a falta da participação das mulheres na Assembleia é por vontade delas próprias.

Esses três exemplos descrevem como anda a situação na Assembleia Legislativa do Paraná e qual tem sido o nível de debate público por lá: parlamentares que não representam os interesses coletivos e que atentam contra os direitos humanos, fazendo uso de um espaço que deveria defendê-los.

O Paraná é a casa de mais de 11 milhões e 500 mil pessoas, representadas por 54 deputados estaduais. Mais da metade da população paranaense é composta por mulheres, mas só 5 delas conseguiram chegar na Alep. E essa diferença não tem a ver com o que o deputado Homero comentou, de que “é porque as mulheres não querem”. É porque, para as mulheres, é muito mais difícil se candidatar.

Quando manifestamos o desejo de ocupar espaço na política, sofremos resistência dentro das nossas casas, do nosso trabalho, com os amigos e conhecidos. Sofremos resistência até mesmo dentro dos partidos e dentro das casas parlamentares, para as poucas que conquistam uma cadeira, e isso é uma construção histórica que precisamos superar.

A dificuldade que as mulheres têm em participar da política se expressa nos números divulgados pelo Senado: apenas 31,16% das mulheres se candidataram às eleições de 2018. E pasmem: só 7,41% conseguiram ser eleitas.

Ser uma mulher na política é enfrentar inúmeras dificuldades para chegar até lá e, quando chegamos, continuamos a encontrar obstáculos. Mas isso não nos intimida: o desejo de transformar é o que nos move e o que não nos falta é coragem para fazer isso. Foi pensando nesses contextos que decidi me pré-candidatar a deputada estadual nestas eleições, com o objetivo de construir projetos que realmente mudam a vida das mulheres e de toda a sociedade.

Não é mais possível que parlamentares estejam tão alheios às questões do novo mundo, atrasando avanços que já deveríamos ter conquistado, como presenças mais plurais nos espaços de poder. Num país marcado por gestões incompetentes, corruptas e comprometidas com projetos de interesses pessoais, é urgente dar mais voz e espaço à nova política que é uma mulher.

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