Educação domiciliar

Se queremos garantir o direito à educação de todas as crianças, é urgente que regulamentemos o ensino em todas as suas formas, inclusive aquele feito dentro de casa

As aulas finalmente estão retornando na rede municipal de ensino de Curitiba e todo esse tempo que as escolas permaneceram fechadas serviu para chamar a atenção de muitas pessoas para uma pauta que vem sendo debatida a nível federal, a nível estadual e, mais recentemente, a nível municipal em Curitiba: a educação domiciliar.

Com as escolas fechadas e o modelo de ensino remoto/online que nos foi imposto por causa da pandemia, nós pais pudemos perceber o quanto é difícil assumir a responsabilidade de educar nossos filhos em casa.

É importante deixar claro que o ensino remoto/online, que vem sendo aplicado pelas escolas na pandemia, nada tem a ver com educação domiciliar. Na prática, são duas modalidades de ensino completamente diferentes.

Na modalidade online, a escola é a responsável pelo ensino dos alunos, assim como no modelo presencial. A escola define a metodologia, os livros que serão tomados como base e quem vai ensiná-los, mas com um detalhe: transfere aos pais a responsabilidade de orientar, monitorar, acompanhar tudo que está sendo debatido na escola e, não raro, lecionar. Esses pais não optaram por ensinar seus filhos em casa. Eles simplesmente não tiveram outra opção! Foram obrigados, no contexto da pandemia, a dividir a responsabilidade pela educação formal de seus filhos.

Na educação domiciliar, os pais têm a prerrogativa de escolher como será a socialização das crianças, os métodos de ensino a que seus filhos serão submetidos. Podem mesclar modelos para cada matéria, se entenderem que assim a criança obterá um melhor desempenho. Definem a carga horária, materiais didáticos que vão embasar seus ensinamentos e até quem vai ensiná-los. Os próprios pais, ou algum professor especialmente contratado para isso. Na educação domiciliar, os pais assumem total responsabilidade sobre a educação formal e social de seus filhos.

O que eu defendo é que os pais tenham a liberdade de escolher qual a modalidade de ensino é mais adequada à realidade de suas famílias e que os filhos também possam participar dessa escolha. Quando o modelo de ensino é imposto sem nenhuma preparação da família, escola e professor, como agora na pandemia, acontece o que temos visto: crianças e famílias que não se adaptam. Perda na qualidade educacional. Falhas no desenvolvimento intelectual. E até doenças como obesidade infantil, depressão e tantos outros transtornos psicológicos e de socialização. Agora, quando uma família tem possibilidade e condições de optar pela modalidade de ensino domiciliar e assume a responsabilidade pela educação de suas crianças, ela deve se estruturar em torno dessa decisão. É uma decisão muito séria, pois exige muita dedicação, tanto da criança, quanto de seus responsáveis. 

Eu luto por escolas abertas e luto também pela educação domiciliar. O importante é que todas as modalidades e metodologias de ensino estejam disponíveis para as famílias escolherem, junto com seus filhos, qual a melhor opção para suas crianças. Se a família opta por educar seus filhos em casa, ela não deveria ser proibida. O governo pode e deve acompanhar essas famílias, para se certificar que as crianças estão de fato aprendendo e não estão sendo abandonadas intelectualmente, afinal, educação é um direito de todas as crianças.

Mas não é o que acontece hoje. Com a falta de regulamentação do ensino domiciliar, o que vemos não é o abandono intelectual de crianças pelas famílias educadoras, mas o Estado abandonando essas famílias que tomaram a nobre e difícil decisão de não depender da escola para ensinar seus filhos. O Estado fecha os olhos, ignora a existência dessa realidade e, por isso, não consegue nem acompanhar o desenvolvimento dessas crianças.

Se queremos garantir o direito à educação de todas as crianças, é urgente que regulamentemos o ensino em todas as suas formas, inclusive aquele feito dentro de casa. O mais importante é que a criança aprenda e se desenvolva, e nosso foco como sociedade deveria estar aí e não nos meios como isso acontece!

Pela liberdade de escolha, pela possibilidade de acompanhar famílias educadoras, pela aprendizagem das nossas crianças, precisamos deixar o preconceito de lado e reconhecer a educação domiciliar como uma modalidade de ensino regular no nosso país.

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