Até quando teremos bandeira vermelha de faz de conta?

Apesar do estado de alerta máximo, lockdown implantado pela prefeitura de Curitiba é seletivo

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), desde os primeiros meses de pandemia do novo coronavírus as estatísticas indicam que as grandes cidades tornaram-se espaços privilegiados de contágio. Portanto, a cidade e as dinâmicas da vida urbana são elementos essenciais na compreensão da disseminação da  Covid-19.

Diversos fatores influenciam a velocidade de contágio dessa doença, como a efetividade de políticas públicas, aspectos culturais e comportamentais, condições de saúde, saneamento e higiene, adensamento e distribuição espacial da população e também o contexto político.

Aqui no Brasil, além da falta de um programa de combate e controle da pandemia, a CPI da Covid mostra que entramos em um cruel projeto de incentivo à doença. Em diversas esferas políticas, do governo federal às prefeituras, muitos são os responsáveis por esse incentivo ao horror que o Brasil está enfrentando.

Como não temos vacinas suficientes ainda, o distanciamento social é o método mais eficaz para a redução da velocidade da transmissão. Mas aqui em Curitiba, a gestão da pandemia tem sido um faz de conta, impondo fome, desemprego, medo, caos no sistema de saúde e fechamento dos pequenos comércios.

Nos encontramos em bandeira vermelha na cidade, o que significa nível de alerta máximo. Contudo, a restrição do funcionamento de apenas algumas atividades, ou seja, a ausência de um lockdown efetivo, causa enorme insatisfação na população, que se sente punida e injustiçada! Além disso, são inúmeras as denúncias da falta de fiscalização das aglomerações no transporte coletivo em horários de pico.

Claramente precisamos de medidas restritivas, mas que sejam acompanhadas com amparo aos mais pobres, apoio aos pequenos negócios, proteção à vida, campanhas regionalizadas de conscientização para o isolamento social e uso correto de máscaras PFF2, distribuição de álcool gel em todos lugares e auxílio emergencial municipal suficiente para garantir alimento e segurança.

Também se faz necessário fiscalização, testagem em massa, busca ativa de pessoas que não se vacinaram por não terem acesso ao aplicativo do município e ações coordenadas com os governos estadual e federal. Não temos nada disso! Nosso atual prefeito sequer usa sua liderança para articular ações com os municípios da região metropolitana.

Na Câmara Municipal, temos feito o debate desta situação e apresentado propostas. Um requerimento de minha autoria, por exemplo, propondo rodízio no horário de funcionamento do comércio, para evitar superlotação no transporte coletivo, foi aprovado e enviado ao prefeito. A ideia também é defendida pela Associação Comercial do Paraná. Apesar disso, até o momento o prefeito nada fez para resolver esse problema.

De acordo com o decreto municipal, estamos em bandeira vermelha pelo menos até o dia 9 de junho, mas antes do final do dia de hoje, os trabalhadores curitibanos que não têm o direito ao home office voltarão às suas casas em ônibus lotados. Outros tantos desempregados e desalentados não saberão se amanhã morrerão de Covid-19 ou de fome.


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