Gostaria de trazer alguns elementos para reflexão sobre a manifestação do dia 5 de fevereiro, na Igreja do Rosário dos Pretos de São Benedito de Curitiba. De antemão, reafirmo minha posição de combate ao racismo, ao fascismo e contra o extermínio da população negra. Da mesma forma reafirmo minha posição de defesa da liberdade religiosa e de amplo respeito a todas as crenças, espaços e templos sagrados de qualquer religião, sem distinção.
As irmandades do Rosário e seus templos fizeram parte da resistência do povo negro escravizado e oprimido no Brasil. Através de suas celebrações e festas, louvavam à Nossa Senhora com orações, cantos, danças, a continuidade destas práticas está presente nos congados e tambores do Rosário contemporâneos, patrimônio imaterial do Brasil. Aqui em Curitiba, há publicações da Fundação Cultural de Curitiba divulgando a Festa do Rosário e a lavação das escadarias da igreja, reconhecendo estes eventos como relevantes na programação do mês da Consciência Negra em Curitiba.
Ressaltando mais uma vez que foi a igreja dos pretos que garantiu que pretas e pretos pudessem participar dos ritos católicos porque os demais espaços eram fechados para eles.
Em relação a entrada de parte dos manifestantes na igreja, ocorrida em determinado momento do ato, sou contra distorções que visem unicamente prejudicar a imagem dos manifestantes dos movimentos sociais, do PT, e atacar nossos representantes.
Estive na praça em frente à igreja participando da atividade organizada pelo movimento negro e, embora não tenha entrado no templo, presenciei um ato simbólico e justo aclamado pela proteção à vida de pessoas pretas, em uma igreja historicamente vinculada à população negra.
O vereador Renato Freitas já se pronunciou em plenário no dia 9 de fevereiro, pedindo desculpas aos fiéis e a toda comunidade católica. Nós reconhecemos a luta de Renato Freitas e a importância de seu mandato para a Câmara Municipal e para a população periférica da cidade.
Enquanto membro da Mesa Diretora, analisei os pedidos de cassação recebidos pela Câmara e na reunião do dia 10 de fevereiro defendi, com atenção à técnica e à lei que essa posição exige, a ampla defesa e a garantia do devido processo legal, me opondo à decisão da Mesa que acatou todos os pedidos.
Sabemos que, infelizmente, alguns vereadores de Curitiba, parte da imprensa, lideranças políticas – algumas delas pré-candidatos/as e até mesmo o genocida que hoje é presidente da República – têm usado esse episódio com o intuito de criminalizar a esquerda e seus representantes.
Precisamos veementemente denunciar e repudiar a série de ataques de cunho racista que meus colegas de bancada, Renato Freitas e Carol Dartora, têm sofrido desde o ocorrido, pois este movimento tem apenas o intuito de desvirtuar a questão do debate central: o combate ao racismo e o genocídio da população negra.
Para terminar, presto minha solidariedade às famílias de Moïse, Durval e de todos os negros e negras que sofrem violência e são assassinados todos os dias em nosso país.
Sobre o/a autor/a
Professora Josete
Estudou a vida toda em instituições públicas, formou-se em Biologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde também especializou-se em Organização do Trabalho Pedagógico. Trabalhou como bancária, no extinto Banestado e, partir de 1985, iniciou carreira na Rede Municipal de Ensino de Curitiba. Integrou a equipe que fundou o Sindicato dos Servidores do Magistério Municipal de Curitiba (Sismmac). Foi presidente do sindicato e dirigente estadual da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Filiou-se no Partido dos Trabalhadores em 1990 e foi eleita vereadora pela primeira vez em 2004, reelegendo-se em 2008, 2012, 2016 e 2020.