A importância do exemplo e do diálogo

Cobrar que a prefeitura siga o próprio decreto pode parecer até desnecessário, de tão absurdo

A pandemia impôs aos gestores municipais aquele que talvez seja o maior desafio da nossa geração. Salvar vidas, garantir empregos, controlar a transmissão do vírus, oferecer a estrutura de saúde adequada e vacinar a população, tudo isso durante uma corrida contra o tempo para encontrar equilíbrio entre as ações necessárias. Há dois itens importantes neste processo: ser exemplo e dialogar, explicar o motivo das suas decisões.

O Poder Executivo deve agir com coerência pois é uma forma de respeitar comerciantes, desempregados e informais que precisam se reinventar a cada dia para sobreviver financeiramente. Para ilustrar o tamanho do impacto: durante um ciclo de  23 dias de bandeira vermelha entre o final de fevereiro e março, mais de 5 mil trabalhadores de bares e restaurantes foram demitidos. Em 2020, este número de desligamentos do setor passou de 13 mil. É o que revelou pesquisa realizada pela Abrasel.

Em meio a um período de severas restrições, a maioria dos empresários age com responsabilidade. Nos comércios que temos percorrido, conhecemos muita gente séria, que segue os protocolos, respeita as medidas necessárias e se desdobra para manter as portas abertas e as contas (inclusive os altos impostos) em dia.

Fazendo a sua parte, o contribuinte espera que a prefeitura aceite as regras do jogo. Vejam só: determinações do próprio Poder Executivo. Cobrar que a prefeitura siga o próprio decreto pode parecer até desnecessário, de tão absurdo. Mas infelizmente um episódio da semana passada revelou que não é bem assim.

Dia 13 de maio, durante a vigência da bandeira laranja, que impedia a realização de “eventos que tenham aglomeração (…) em espaços de uso público, localizados em bens públicos ou privados”, o Poder Executivo desrespeitou o próprio decreto. A prefeitura resolveu promover a inauguração de um memorial no Parque São Lourenço com grande quantidade de pessoas e sem respeitar o distanciamento recomendado.

O evento presencial causou revolta e indignação não apenas nos setores mais impactados, mas em pessoas do Brasil inteiro, que se sentiram ofendidas com a incoerência e falta de sensibilidade da prefeitura. O setor de eventos está paralisado há 14 meses. Bares e restaurantes enfrentam um “abre e fecha” desde março de 2020. Sabemos que a palavra convence, mas o exemplo arrasta e neste episódio a prefeitura simplesmente se esqueceu disso.

E também anda se esquecendo da palavra e do diálogo ultimamente. Com a ameaça de uma quarta onda, nesta quarta- feira, ao invés de decretar bandeira vermelha, como a própria Secretária de Saúde havia mencionado, foi mantida a bandeira laranja mas aumentaram as restrições.

E, mais uma vez, a prefeitura não lembrou que, se explicasse para a população o motivo das restrições e apresentasse dados e evidências que justificassem a decisão, seria muito mais fácil conseguir o comprometimento do curitibano. Mas, sem fazer isso, impôs restrições aos sábados, que provavelmente levarão a aglomerações à noite e nas sextas-feiras nos supermercados. Isso sem falar nos ônibus cheios!

Com isso, o que a prefeitura conseguiu foi uma grande indignação por parte de grande parte da população e principalmente dos empreendedores, que já estão à beira da falência. Assim, fica muito mais difícil conseguir que todos sigam as regras.

Que a prefeitura reveja suas ações e que todos tenham a responsabilidade necessária para que possamos superar essa crise definitivamente.


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