Por que o Brasil não sai do lugar?

Depois de décadas de semiestagnação econômica, dizer que somos o país do futuro assumiu um tom de quase galhofa

“O Brasil é o país do futuro.” Esse é um mantra que todo brasileiro já ouviu. O paradoxo é que ao invés de se aproximar, esse hipotético futuro fica cada vez mais distante. Ao longo das últimas quatro décadas, vimos a diferença que nos separa das nações mais ricas aumentar ao invés de diminuir. Em 1980, nosso PIB per capita por paridade de poder de compra era pouco mais que 38% do estadunidense. Ou seja, para cada dólar que um estadunidense ganhava, recebíamos 38 centavos de dólar. Em 2019, ganhávamos menos de 24 centavos para cada dólar que nossos irmãos mais afortunados do Norte ganhavam.

Depois de décadas de semiestagnação econômica, dizer que somos o país do futuro assumiu um tom de quase galhofa. São cada vez mais raras as pessoas que verdadeiramente acreditam nessa profecia. No entanto, houve um período histórico no qual o Brasil de fato parecia predestinado a ser uma nação extremamente próspera. Entre 1930 e 1980, o PIB per capita de nosso país se multiplicou quase 7 vezes. Para efeito de comparação, entre 1980 e o ano passado, esse aumento foi de pífios 36%. 

Isso não significa que tudo eram rosas nessa época, óbvio. Haviam pesadas contradições que, felizmente, foram em larga medida atenuadas com a redemocratização e a Constituição de 1988. Contudo, há um aspecto em especial que é de se lamentar que tenha ficado esquecido no passado. A transformação estrutural da economia, entendida como o processo de “subir a escada” tecnológica permitindo que o país possa produzir bens e serviços cada vez mais complexos, não foi nunca mais uma prioridade na agenda nacional desde a fatídica década de 1980. Essa negligência nos cobrou um preço caro. Nossa economia se reprimarizou, voltando a se especializar em commodities, produtos com baixíssimo valor agregado.

Evidências de que a “complexidade econômica” de um país está relacionada ao nível de renda per capita e ao ritmo de crescimento, à desigualdade e até mesmo às emissões de gases de efeito estufa vêm surgindo nos últimos anos. Produzir microchips ou batatas chips, afinal, faz toda a diferença. Isso pode parecer óbvio para qualquer pessoa não iniciada nas obscuras artes da economia, porém a simples constatação de que produzir bens com maior tecnologia e conhecimento embutidos gera maior desenvolvimento econômico confronta o principal cânone do liberalismo. De acordo com o credo liberal, o tipo de produtos que sua economia se especializa é indiferente. Essa tese parece cada vez mais frágil frente às novas evidências que temos.

Dessa forma, está claro que o principal desafio econômico que nosso país enfrentará nos próximos anos é como avançar na direção de uma economia mais intensiva em tecnologia e conhecimento. O nosso país, não custa lembrar, segue sendo um país pobre. O nosso povo não terá o padrão de vida que almeja e merece se não nos desenvolvermos economicamente, e esse desenvolvimento não virá se somente produzirmos um punhado de commodities de maneira competitiva.

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