Experiência do Usuário

A maioria das pessoas, de diferentes gerações, assistiu ou conhece um clássico da animação: o longa metragem “A Branca de Neve”, produzido pelos estúdios Disney na década de 50.

Foram anos de trabalho e milhões de dólares gastos no desenvolvimento deste filme.

Ele se tornou um clássico por ser o primeiro longa-metragem animado da história e trouxe em seu bojo centenas de outras inovações na sutil e singular arte de animar objetos abstratos em frente a um conjunto incontável de lentes.

Efetivamente, fazer um ser inexistente dançar bela e divertidamente na frente deste conjunto de filmadoras não é até hoje um trabalho fácil.

Walt criou este desafio para ele mesmo e para seu maravilhoso time de artistas.

O resultado já conhecemos e sabemos que resultou em muito reconhecimento e fortuna para Walt e seus parceiros.

Mas o que pouco se divulga são os desafios que estes profissionais enfrentaram para elaborar as soluções necessárias a todos os problemas que surgiram durante a grandiosa produção.

Por exemplo, os desenhistas estavam tendo dificuldade em produzir a cena da dança dos anões.

Apesar da anatomia dos personagens animados já ter sido definida e projetada em diferentes posições e ambientes, neste caso específico, movimentá-los de acordo com uma música e aplicar todas as minúcias destes movimentos diretos e indiretos, era um desafio imensurável e que estava provocando um atraso enorme na produção.

Não tinha como excluir este momento do roteiro do filme, como já se tinha feito com diversas outras dificuldades que surgiram.

Num determinado momento, Walt mandou que se produzisse uma grande cabeça, grande mesmo, dando a impressão para quem a vestisse como seria a anatomia natural dos anões.

Quando os desenhistas viram Walt trazendo aquela grande cabeça imediatamente entenderam o que aconteceria, mas algo os surpreendeu.

Todos acharam que algum artista vestiria a cabeça e dançaria, eles só precisariam ficar com as pranchetas e lápis a postos para começar as “observações”.

Walt orientou que a música fosse colocada e que os desenhistas, cada um num momento, vestissem a grande cabeça e “experimentassem” a anatomia dos anões dançarinos.

Isso não só resolveu o problema, como deu o start a uma série de novas experimentações até o final da produção.

Esta inovação se tornou uma cultura funcional tão forte, que até hoje se usa na Disney Pixar uma ferramenta de produção chamada de “Sessão de Experimentação”, na qual os artistas e produtores experimentam o que precisam criar.

A empatia é a palavra da moda e uma das grandes virtudes de uma pessoa. 

Talvez você me critique por misturar estes temas: empatia com estratégia de criação . Mas vamos analisar brevemente a solução que Walt gerou quando fez um exercício de experimentação.

Aqueles desenhistas não estavam experimentando algo que efetivamente existisse. Eles precisavam criar um momento de interação com um público externo, com o qual eles não teriam nenhum contato até que a obra ficasse pronta.

Logo, a experimentação foi de “percepção da reação dos demais” conforme cada desenhista fazia sua proposição de dança para aquela música.

Tanto que, se olharmos a cena final, percebemos que os personagens mais caem e se batem do que dançam.

Então onde está a empatia neste movimento?

Virtude. Isso que provocamos em nós e no que fazemos quando aplicamos a empatia nas nossas “observações” sobre qualquer problema que precisamos resolver.

Efetivamente aquele exercício feito por Walt com seus artistas não gerava uma experiência de usuário direto, pois o seu publico-alvo não eram os personagens em si, mas o público que os assistiria. Mas provocou a virtude profissional destes artistas para gerar uma “singular sensação”.

Hoje se tornou um mantra no moderno mundo corporativo de que para inovar precisa-se “gerar uma singular experiência no usuário”. Mas poucos estão dispostos a “vestir os sapatos” destes usuários para entender e “sentir” sua jornada.

Sensação é diferente de experiência. Uma gera a outra.

Na Laura, o usuário do sistema que criei não é o paciente. São médicos e enfermeiros. Mas desde o primeiro dia, provocamos a “sensação de urgência” que apenas um paciente tem, fazendo com que estes profissionais fiquem incomodados com a inércia, caso ela aconteça, evitando o risco de algo ser esquecido ou tardiamente executado.

Percebo que, no desespero para se criar soluções digitalmente empáticas, muitos se esquecem de pensar em como elas resolvem problemas maiores e integrados com demais aspectos da vida do usuário.

Então SER HUMANO, livre, conectado e inovador, quando pensar em gerar uma solução baseada numa experiência de usuário, analise não apenas a sua jornada, mas a sensação que esta experiência provocará e como demais aspectos de sua vida podem ser melhorados direta e indiretamente. Seja virtuoso por aplicar a empatia de verdade.

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