Jesuítas completam sete décadas em Curitiba

Padre Edmundo Dreher chegou em 1951 com a missão de fundar colégio

Em 1951 Curitiba era uma cidade de apenas 180 mil habitantes: aproximadamente um décimo da população atual. O prefeito ainda nem era eleito. A maior parte dos bairros que hoje estão entre os mais populosos ainda eram apenas charcos e fazendas distantes do centro. E havia quase dois séculos que um jesuíta não pisava nem na capital nem nos outros municípios do estado.

Os padres da Companhia de Jesus tá tinham passado duas vezes pelo Paraná. A primeira, dramática, ficou famosa pelos confrontos na divisa da América portuguesa com a América espanhola. Eram padres espanhóis que estavam se aproximando dos índios e que acabaram sendo expulsos da região após bater de frente com os bandeirantes.

Na segunda aproximação, no século 18, o resultado mais importante foi a construção do primeiro colégio do estado, em Paranaguá – que atuou por pouco tempo mas se transformou em um símbolo importante. A ordem dos Jesuítas, porém, acabou sendo suprimida e por um longo tempo ficaria distante dessas terras. Até 1951.

Em março de 1951 o arcebispo da cidade, dom Manoel da Silveira D´Elboux, acolheu o primeiro jesuíta a chegar aqui no século 20. O padre Edmundo Dreher vinha do Sul – era no Brasil Meridional que os jesuítas estavam recomeçando seu trabalho de catequese e educação. E agora tomavam fôlego para chegar ao Paraná.

Colégio fundado em Paranaguá.

Fundada por Inácio de Loyola em 1534, a Companhia de Jesus foi um braço importante para a extensão da Igreja Católica no momento da contrarreforma, quando boa parte da Europa aderia aos movimentos protestantes. Espalhando-se pelo mundo, padres da ordem disseminaram a cultura do cristianismo do Brasil recém-descoberto até a China e o Japão.

“Sempre esteve na história da Companhia de Jesus a educação, assim como o serviço social. São dois braços muito importantes do trabalho da ordem”, diz a historiadora Valesca Giordano Litz, que escreveu sobre a chegada do padre Edmundo em um livro sobre os 50 anos do Colégio Medianeira – um dos principais frutos gerados pelos jesuítas no Paraná.

Edmundo Dreher recebeu imediatamente a incumbência de cuidar da Igreja do Rosário, uma das mais antigas da capital, e que ainda hoje, 70 anos depois, permanece sob cuidados dos jesuítas. Hoje também uma paróquia no Boqueirão é gerida por padres da companhia. Mas a principal missão mesmo seria criar um colégio jesuíta por aqui.

Em 1954, a pedra fundamental viria de Paranaguá, retirada do colégio criado por lá no século 18. Três anos depois, o Medianeira era inaugurado.

“O que nós vamos comemorar neste dia 27 não é só o passado”, diz o padre Nereu Fank, atual diretor-geral do colégio. “Essas sete décadas que se passaram são a base do trabalho que fazemos hoje. E que continua. Então celebramos não só o que aconteceu em 1951 como também a História que segue em curso”, diz ele.

As celebrações serão mais contidas em função do momento da pandemia. Nem por isso serão menos importantes. “Vai ser uma honra ter o arcebispo d. Peruzzo presidindo as comemorações”, diz padre Nereu. E no dia seguinte, os jesuítas e os milhares de leigos que apoiam seu trabalho darão continuidade a essa história, que ainda tem muito caminho para percorrer.

Serviço
Missa em homenagem aos 70 anos dos Jesuítas em Curitiba:
27/3, às 17h, pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=-CEYXoXKIeM


Leia trecho do diário do padre Edmundo Dreher do dia em que ele chegou a Curitiba:

“27 de março de 1951 

Em honra e louvor da SS. Trindade, seja tudo para a maior glória do Sagrado Coração de Jesus, para engrandecimento do Imaculado Coração de Maria e do glorioso patriarca São José, bem como do vencedor dos demônios, São Miguel Arcanjo. 

Escreve P. Edmundo Henrique Dreher, da Companhia de Jesus, enviado pelo R. P. Leopoldo Antzen, Provincial da Província Sul-Brasileira, a fundar uma residência em Curitiba, Paraná.  

Ao Aeroporto de Porto Alegre acompanharam-me o R. P. Provincial e o R. P. Walter Hofer, reitor do Colégio Anchieta. Às 08h, o alto falante deu o sinal de embarque, e pelas 8,15 o avião misto da Varig alçou vôo. Houve visibilidade até pela fronteira de Santa Catarina. Depois um teto de nuvens tolhia toda a visão, até chegar a Curitiba, onde aterrissamos às 10h, 6min e 30 segundos, após nem bem 2 horas de vôo direto. 

No aeroporto não me esperava ninguém, pois que eu, fiando-me no vôo anterior que fizera em janeiro deste ano, para pregar o retiro ao clero de Curitiba, julgara fazer escala em Araranguá e Florianópolis, o que nos faria chegar pelas 11h.  

Comunicara esta hora de chegada ao Sr. Arcebispo. Entretanto, enquanto aguardava a entrega da bagagem, aproxima-se o P. Víttola, que telefonara para a agência da Varig, a fim de saber da chegada do avião. 

Fomos já rumando para o palácio quando a uns 400m encontramo-nos com o auto do Sr. Arcebispo. Voltamos e beijei-lhe o anel no aeroporto. 

Chegados que fomos tomamos um cafezinho e deram-me o quarto no qual ficaria residindo até instalação da residência.  

À tarde, P. Vittola orienta-me levando-me à catedral, e depois ao cemitério municipal.  

Às 20h fomos, o Sr. Arcebispo e eu, fazer uma visita de cortesia ao Sr. Miguel Calluf, que muito se alegrou com a visita e com a minha vinda, reiterando sua promessa de pôr-nos à disposição o prédio que possui alugado a um departamento do Ministério de Agricultura, vizinho à sua luxuosa residência. O problema que surge é o de desalojar os inquilinos, tanto mais difícil que são do governo. O Sr. Arcebispo, interessado em nossa residência e atividade, prometeu interceder. 

O prédio espaçoso que é presta-se muito bem para darmos início a um pensionato acadêmico.  

O Sr. Arcebispo manifestou o desejo de termos aqui um Colégio, bem como de entregar-nos a Faculdade de Direito da futura Universidade Católica.” 

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