Está faltando água. O que eu posso fazer?

Há muito o que fazer para que não falte água nas grandes cidades

Um período de seca mais longo do que o comum em São Paulo levou o país inteiro a acompanhar o drama de sua maior cidade: milhões de pessoas não conseguiam água nem para as atividades básicas do dia a dia, como cozinhar, tomar banho e usar o banheiro.

Foi com essa estiagem, em 2014, que os brasileiros descobriram a expressão “volume morto”. Os paulistanos estavam com seus reservatórios vazios e começaram a receber a água que ficava bem perto do fundo da barragem, um líquido escuro, lamacento e muito menos salubre do que a água que antes recebiam em suas casas.

O fenômeno tem se repetido em diversas grandes cidades, mesmo as mais distantes dos trechos celebremente secos do país. Neste 2020, Curitiba passou por algo semelhante: seus reservatórios, depois de uma seca sem comparação nos últimos 40 anos, baixaram a níveis preocupantes, e só um racionamento draconiano impediu que a água acabasse de uma vez.

É evidente que períodos de mais chuvas sempre se alternaram com secas na história do mundo – um fenômeno que, com o aquecimento global, tende a ser marcado por oscilações mais drásticas e maiores perigos. Mas o que acontece nas grandes cidades tem muito a ver com o que fazemos com nosso entorno.

De onde vem?

A água que você usa desde cedo na sua casa, para escovar os dentes, normalmente vem de longe. Se você mora numa grande cidade, é provável que a captação aconteça em outro município, onde há menos asfalto e mais área verde. Essas áreas de mananciais são as mais importantes para que a água não falte.

Um dos problemas das metrópoles é que, à medida que a cidade vai se expandindo, ocupa as antigas áreas que serviam ao abastecimento. A cada década, a captação precisa ser feita em lugares mais distantes – e a água também precisa dar conta de uma população cada vez maior: dois milhões de pessoas no caso de Curitiba, seis vezes mais em São Paulo, por exemplo.

Mesmo quando a cidade não chega, a atividade econômica desenfreada e, muitas vezes, irregular, também causa prejuízos a essas regiões de captação. É comum que condomínios, indústrias e outros tipos de edificação sejam erguidos em áreas indevidas. Poluentes acabam sendo jogados onde a água deveria ser mais pura.

Desmate

Nessas regiões, também é importante que haja vegetação densa, para reter a água da chuva, o que garante reservatórios mais cheios. No entanto, a atividade madeireira e a construção civil muitas vezes acabam devastando as matas ciliares, e nem sempre a fiscalização impede que isso aconteça.

Sem a mata ciliar, os reservatórios não só se tornam menos eficientes como estão mais expostos à contaminação. Por isso, um dos movimentos mais importantes que qualquer grande cidade deve fazer é se aproximar dos municípios à sua volta e reconstruir a mata onde ela tiver sido prejudicada – além claro, de proteger o que ainda existe.

Com a proteção das represas e dos rios, além de evitar a contaminação por agrotóxicos, por exemplo, já que em geral essas áreas são próximas de atividades agrícolas, as fontes subterrâneas de água também se multiplicam e ficam mais fortes.

Nas cidades

Claro que dentro da cidade também há muito o que fazer, mesmo fora da casa de cada um. A começar pela consciência de que é preciso não poluir a água, de que não se pode jogar qualquer coisa nos rios e nos bueiros.

Em muitas cidades com grande ocupação, é comum que as famílias mais pobres, excluídas das regiões centrais, acabem procurando moradias irregulares à beira dos rios. Essas áreas, que deveriam ser protegidas, acabam sofrendo com a erosão e poluição, num típico exemplo de problema social que acaba afetando o meio ambiente.

Seria fundamental que as autoridades dessem conta do problema da moradia (o que começa pela redução da pobreza) nas grandes metrópoles. No entanto, esse tem sido um problema que muitos prefeitos e governos deixam em segundo plano.

Dentro de casa

Obviamente, há muito que você pode fazer dentro de sua casa. Embora o consumo de cada pessoa, se comparado com o total da cidade, seja minúsculo, é a soma das economias que permite um ambiente mais saudável. Se ninguém fizer a sua parte, não há como mudar.

Tomar banhos mais curtos; desligar a torneira enquanto escova os dentes ou faz a barba; usar menos água para lavar a louça; reaproveitar a água para atividades que não exigem água potável (como lavar o carro); todas essas são atitudes essenciais para diminuir a pressão sobre o sistema de abastecimento e, em última instância, para ajudar o planeta a ser mais saudável.

Não é nada impossível. Mas é preciso saber se estamos todos dispostos a isso.

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